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O Tintin que eu conheci 9 Oct 2021 10:03 AM (4 years ago)

 Não me recordo do modo como conheci o Tintin, enquanto personagem ou mesmo a revista com o mesmo nome, lançada em Portugal em Junho de 1968. É provável que fosse nesta altura que tive contacto com tal banda desenhada pela primeira vez pois era frequentador de quiosques e fascinavam-me já as revistas e livros sobre determinadas matérias como a II Guerra Mundial. 

Os primeiros livros que comprei no ano de 1969 reflectiam tais gostos que viriam porventura das histórias de cóbóis e livrinhos de guerra que gostava de ler, os Condor popular, Mundo de Aventuras, FBi e outros do género do Major Alvega.

Nessa altura o Tintin enquanto personagem de bd ou a revista eram relativamente desconhecidos porque nunca tinha lido uma história completa nem sabia a riqueza temática que lá poderia encontrar. 

Porém, no início da década de setenta foram publicados uns cromos de colecção da aventura de Tintin e o Templo do Sol, tendo alguns deles chegado às mãos e suscitado a curiosidade pela beleza singela do traço e da cor. 

Foi nessa altura que comecei a desenhar, copiando modelos alheios, como era o caso do Tintin destes cromos que saíram em 1970, nas carteirinhas de pó de gelado Royal e que eram reproduções de fotogramas do desenho animado sobre o Templo do Sol.

Os desenhos no entanto inspiraram-se noutros modelos, também da mesma época, uma vez que não dizem respeito àquele desenho animado.





Foi apenas em Fevereiro de 1972 que comecei a comprar a revista Tintin, tendo já visto uma coleção de números anteriores, encadernados, na casa de um amigo. A aventura que então me suscitou maior atenção foi a de Tanguy Et Laverdure, os Cavaleiros do Céu que igualmente passavam na tv a preto e branco da época, em episódios semanais e com actores franceses. 




E a primeira aventura de Tintin que li já ia adiantada, tendo começado no início desse ano e durou até Julho...


A revista foi então uma descoberta por causa das outras histórias, todas em continuação e que prendiam o leitor até ao Sábado seguinte. 
Um dia desses, no Verão desse ano,  descobri na montra da livraria ( a Bertrand era quem distribuía a revista e colocava-a nos escaparates, tal como outras) outro Tintin, com formato ligeiramente maior e título mais encorpado. Era a edição original, belga. 


Era ainda mais espectacular e descobri uma série que me fascinava, mais que as outras, de Hermann com a história Comanche, aliás já iniciada anos antes, como vim a descobrir mais tarde. O desenho, as cores e a história eram imperdíveis. 


Portanto o Tintin passou a ser mais que o herói de Hergé. 
Logo no número seguinte ao primeiro que comprei, ainda em Fevereiro de 1972 começou uma história de Lefranc, desenhada por um dos colaboradores directos de Hergé, no Tintin do começo, dos anos quarenta, Jacques Martin, neste caso auxiliado por outro dos colaboradores daquele, Bob Moor. 
A série Lefranc teve continuação depois com outros autores, mas esta aventura é das melhores, a par da primeira, La Grande Menace , já então publicada pelo Tintin original e da autoria a solo de Jacques Martin, seguida de Le Mystère Borg que só conheci anos mais tarde. 


Quanto a Bob de Moor era autor de Barelli, aqui numa história de 1974, Le Boudha Boudant, publicada na Lombard belga.


O Tintin em Portugal tinha começado a ser publicado quase no começo ( Tintin no Congo) , por Adolfo Simões Müller que mantinha correspondência com Hergé e no Cavaleiro Andante de 12 de Julho de 1958 era assim a segunda página da aventura do Lotus Azul: 



Em 2004 o jornal Público tinha esta mesma página assi, no álbum respectivo que então foi publicado conjuntamente com os restantes 23 da série, incluindo o Tintin no país dos Sovietes. 
A diferença de cores é notória. 


Durante o ano de 1972 o Tintin publicou a história dos Charutos do Faraó, uma das mais interessantes, com o temível Rastapopoulos.


A seguir e até 1974, altura em que deixei de comprar a revista, ainda li O Lótus Azul e A Orelha Quebrada e uma ou outra página de A ilha Negra que se publicou durante o ano de 1974. O resto das histórias só muito mais tarde as li e nem todas pelo que nem saberia dizer qual é a minha preferida. 
Outro dos colaboradores iniciais de Hergé foi Edgar Pierr-Jacobs, o celebrado autor das histórias de Blake & Mortimer. 
Em 14 de Outubro de 1972 a revista publicava a história das Três fórmulas do professor Satô, a qual ficou inacabada sendo posteriormente terminada por colaboradores. Era um encanto. A segunda parte da história, Mortimer contra Mortimer foi publicada em 1990, já depois da morte de Jacobs, em 1987 e foi desenhada por Bob de Moor, a partir de esquissos e planos daquele, completamente delineados e preparados. 
Apesar de tudo, há uma diferença nítida entre ambos os desenhadores, com maior segurança e precisão de traço no caso de Jacobs, tido como perfeccionista e com menos sombras dispersas...




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 Decorre na Gulbenkian até Janeiro próximo uma exposição sobre Hergé e a sua obra gráfica, cujo expoente máximo é o Tintin, acompanhado do cãozinho milou e do marinheiro Haddock e outras personagens já lendárias como o professor Tournesol. 

Em 12 de Novembro será a vez de uma "conversa" tendo interlocução de António Cabral e António Araújo acerca do autor e o Portugal do Estado Novo. Estou para ver o que irá sair de tal toca embora não augure nada de especial, esperando-se o pior.  

A exposição tem a colaboração do museu Hergé, na Bélgica e segundo li algures é a mesma que já foi mostrada em Paris, no Grand Palais, em 2016 ( entre 28.9.2016 e 15.1.2017).

Na altura foi muito divulgada em França tendo merecido a atenção de revistas como Le Figaro magazine: 





E mesmo a Beaux Arts:






Tais revistas davam espaço ao mito do Tintin de Hergé procurando mostrar novos aspectos das historietas desenhadas por Hergé e a sua equipa dos Studios, em Bruxelas. 
Ao longo dos anos o mito de Tintin foi consolidando à medida que as historietas foram sendo publicadas, desde os anos trinta e a última das quais em 1975, a da aventura com os Picaros. 

Por mim conheci o Tintin no início dos anos setenta, através da revista com o mesmo nome, cujo primeiro número surgiu em Portugal em Junho de 1968. 
Apanhei a historieta do Tintin na América, a meio e no mesmo ano começou a historieta dos Charutos do Faraó, com esta capa:
 

No mesmo ano e pela mesma altura a revista Tintin, na edição belga original, tentava explorar graficamente, através de "cromos", a historieta do Lago dos Tubarões, em desenho animado então realizado. 


Devo dizer que as historietas do Tintin  não me impressionavam por aí além, comparando com outras que a revista publicava, mas eram sempre interessantes e suscitavam curiosidade a cada página por causa do efeito pretendido pelos autores em surpreender com pequenas anedotas ou lances de suspense que ficavam a aguardar oito dias o desenlace, aliás sempre satisfatório e feliz. 
A aventura em si era geralmente do género clássico em que aparece o mau que faz o mal e o intrépido repórter que o combate, sempre com sucesso. Pelo meio a intriga desenrola-se nas várias peripécias que dão corpo a cada historieta e tornaram a personagem já lendária na cultura popular. 

Hergé e a sua equipa desenharam e publicaram ao longo dessas décadas de 30 a 70 do século XX, duas dúzias de álbuns originais, incluindo um "post-mortem", apenas iniciado em esboço pelo autor( Alpha-Art) e um primeiro que se tornou icónico pelo significado contextual: uma aventura na União Soviética do tempo do terror estalinista, cujo interesse artístico é muito relativo . 





Por causa do desenho muito sofrível dos primeiros álbuns, alguns deles foram "refeitos" e redesenhados na década de sessenta, por colaboradores de Hergé, entre os quais, Jacques Martin e Bob de Moor, verdadeiros co-autores de tais obras. Tintin na América é um deles e a versão que li no início dos anos setenta já não foi a original, tal como a Ilha Negra e a aventura no País do Ouro Negro, cada um deles com três versões distintas, sendo os orginais dos anos trinta, redesenhados nos anos 40, 60 e 70, no caso do último.  
Tal com contava a revista Le Point de 6.10.2011:


O depoimento daqueles co-autores, responsáveis por muitos dos desenhos das historietas,  é muito importante para se entender a idiossincrasia de Hergé e o contributo dos mesmos para a obra do Tintin. 
Jacques Martin foi entrevistado em Janeiro de 1999 pela revista BoDoï, contribuindo muito para mostrar a verdadeira faceta de Hergé, afastada do mito que actualmente parece percorrer a exposição em causa, incluindo a desmistificação do estilo "ligne claire":






Em Portugal o Tintin e Hergé foram alvo de atenção e publicação muito cedo. De facto quase logo no início das aventuras, por causa de um autor memorável que por cá dirigia publicações juvenis: Adolfo Simões Müller. No JL de 16.3.1987 contava a história:  




O Público de 2004 também deu importância às historietas de Tintin e publicou os 24 álbuns, com explicações escritas por Carlos Pessoa relativamente a cada um deles e á obra de Hergé. 


Se nos anos setenta as aventuras de Tintin não me suscitavam entusiasmo por aí além, com o passar dos anos e a atenção mais cuidada a tais historietas, com leitura de diversos artigos e ensaios passei a apreciar de modo diverso tais historietas. 
Em 1983, por ocasião da morte de Hergé, a revista A Suivre ( muito criticada por Jacques Martin, por se desviar do modelo clássico do género, consagrou um número especial. 





Numa página traz o depoimento de um dos primeiros grandes colaboradores de Hergé, Edgar Pierre-Jacobs, autor consagrado da série Blake et Mortimer e que ao contrário de Hergé e família, não proibiu que outros desenhadores e seguidores continuassem a série que criou.  


Na altura, Jacques Martin foi mais diplomático na apreciação de obituário:  


Tal como Bob De Moor, outro dos grandes colaboradores de Hergé e autor de outras séries publicadas na revista Tintin ( Barelli) :


Quanto à obra de Hergé, para além de Tintin:
 


Ao longo dos anos tem havido uma reanálise da obra de Hergé e do Tintin em particular no sentido de apontar as inovações, curiosidades científicas e outras espalhadas nas diversas aventuras, com documentação muito cuidada e interessante. 
A revista Science & Vie de 2002




E no ano 2019 a revista Geo passou a publicar trimestralmente uma edição temática consagrada às aventuras de Tintin, muito bem documentada e ilustrada. Já vai no número 9.


Finalmente, durante algum tempo houve tentativas de assimilar Hergé ao fassismo e até ao nazismo, devido a uma suposta preferência pelos alemães no tempo da guerra, esquecendo por exemplo a sátira da aventura do Ceptro de Ottokar. 
Parece que tal ideia foi afastada, ao longo dos anos, tal como se pode ler acima. 
No entanto, em 26 de Junho de 1992 o Independente de Paulo Portas e MEC tinham esta capa no suplemento Vida: 


Tudo por causa de uma entrevista de Sara Adamopoulos a Léon Degrelle, cuja publicação fica para uma próxima oportunidade pelo teor interessante da mesma e que hoje seria virtualmente impossível de fazer...

E a casa-mãe em Bruxelas, a Lombard, em foto de há quatro anos:



Bob Dylan, como o conheci há 50 anos 13 Jun 2021 11:06 AM (4 years ago)

 Bob Dylan fez 80 anos no outro dia e há dez anos escrevi umpostal sobre o aniversário do artista, para contar a história de uma canção que saíra em single no final do ano de 1971, ouvida por cá já durante o ano de 1972 e que fora a música que me deu a conhecer Bob Dylan em disco e a prestar mais atenção ao artista.

Para além disso e como motivo para tal, saíra também um disco duplo de êxitos passados e abrangendo toda a carreira do músico e por isso devo ter escutado no rádio algum deles, mas não me recordo, bem como não dei conta da saída de tal disco.

Em 1971, a música rock, para mim, era apenas uma pequena colecção de temas esporádicos de artistas nem sempre identificados, geralmente de sucesso popular em discos que ouvia no rádio ou em sítios improváveis como a rua, nas discotecas que então havia, dispersas nas cidades e que vendiam os discos que saíam no mercado ou mesmo jukebox de café.

Havia ainda poucos gira-discos de qualidade na casa das pessoas e os que existiam e conhecia apenas serviam para reproduzir em baixa fidelidade os sons que então preenchiam a moda que a juventude adoptava e era invasora, vinda do estrangeiro britânico ou americano, mas também francês, italiano e espanhol. Um som mais ecuménico que o de hoje.

A música popular que passou de pop a rock, dos hippies ou dos “beatles” tomou conta aos poucos de certas ondas sonoras no rádio da época e eram tais programas que a juventude ouvia de preferência, já no final dos anos sessenta, tornando-se mesmo um culto, para alguns.

Era por esse meio mais expedito do rádio que tais musiquinhas eram ouvidas porque passavam e repassavam, criando habituação e interesse em ouvir mais vezes, tornando-as sucessos populares.

A televisão ainda não era meio privilegiado de divulgação, apesar de um ou outro programa, raro, mostrar de vez em quando os artistas da moda.

A divulgação impressa de tal moda também era escassa em Portugal, na época de final dos sessenta.

No Diário Popular de 15 de Janeiro de 1971, em edição que devo ter visto alguns meses depois, uma vez que já estava arrumada juntamente com outros para embrulhar coisas, havia este desenho originalmente publicado no Melody Maker, com alguns artistas cuja identificação então tive dificuldade em anotar, mesmo com a referência. E "Dilan", outra vez.




Igualmente do mesmo jornal, de 6.11.1970 e recolhido eventualmente na mesma altura, uma notícia e foto de Bob Dylan.



Começaram então a aparecer as publicações dedicadas ao fenómeno, como O Mundo Moderno, Mundo da Canção, Disco, música & moda, Musicalíssimo e mais tarde, já em meados dos setenta, Música & Som, todas em imitação do que melhor se fazia “lá fora”, naqueles países e que aliás também tinham começado em meados da década de sessenta, particularmente nos Estados Unidos, com o aparecimento da Creem, da Crawdaddy e da Rolling Stone , mais específicos de tal cultura do que as publicações tradicionais da indústria do espectáculo, como a Billboard ou a Cahsbox.

No Reino Unido havia já nas décadas anteriores o Melody Maker e até o New Musical Express a que se juntavam o Sounds ou Record Mirror, em tiradas semanais e que chegavam cá com algum atraso mas a tempo suficiente para ilustrar os escribas da especialidade sobre os temas, artistas e fotos a condizer.

Em tais países mais desenvolvidos economicamente e com maior número de consumidores interessados no assunto, o panorama não diferia muito do que se passava por cá, com as devidas proporções. Em meados da década de setenta o conjunto de publicações inglesas dedicadas ao tema ultrapassava o meio milhão de exemplares vendidos, destacando-se o NME e o MM.   

Em função de tais amostragens recebidas por cá a música popular foi-se tornando invasiva e determinante nos gostos e modas da juventude. Apareceram as calças de ganga e a roupa destinada à juventude autonomizou-se daquela dos adultos da geração anterior.

Foi exactamente durante o Verão de 1971 que comprei as primeiras calças de ganga, da marca espanhola Lois e que eram de uma ganga em algodão espesso e azul carregado que se desbotava facilmente em cada lavagem a ponto de deixar a água no tanque tinta dessa cor. Era um must usar as calças e envelhecer as mesmas à medida que se iam renovando.

Há 50 anos por esta altura os “tops” eram um compêndio de músicas populares que ficaram para a posteridade como clássicos do género. Basta ver esta tabela de Maio de 1971 publicada pelo jornal quinzenal Disco, música e moda.

Desde Janis Joplin à banda sonora do filme Love Story ou Rose Garden de Lynn Anderson, passando por Immigrant Song dos Led Zeppelin e o disco All things must pass de George Harrison ou Oye como va, dos Santana e Lucky Man dos ELP, todas as músicas se tornaram memoráveis ao longo das décadas que entretanto passaram.

Tudo isso aconteceu há um pouco mais de 50 anos e vivi tais fenómenos, acompanhando a respectiva evolução em tempo real e à medida em que saíam os discos que passavam no rádio e se ouviam nas discotecas, acompanhados pela apresentação das capas nos escaparates e que eram sempre espectaculares, mesmo  impressas cá.

O nome de Bob Dylan fazia naturalmente parte desse ambiente e apesar de o artista ter já publicado a parte mais importante da sua obra, no final dos sessenta, em 1971 ressurgiu nesse panorama popular devido a alguns acontecimentos.

O concerto para ajudar uma tragédia humanitária no Bangla Desh, organizado por George Harrison e amigos, também ocorrera durante o Verão de 1971, com a participação de Bob Dylan, sendo tal notícia de interesse geral. Harrison fizera parte dos Beatles que se tinham separado alguns meses antes e isso tinha sido igualmente notícia. A causa humanitária ajudou ao resto.

O disco do concerto, triplo,  saiu também na mesma altura que aquele single de Bob Dylan e para além do resto em dose tripla, trazia uma versão espectacular da composição Just like a woman que nunca mais esqueci e se tornou então a melhor canção pop de sempre, para mim, durante uns anos .

Nesse tempo Bob Dylan era um mito, maior que hoje e para quem nasceu em Portugal em meados da década de cinquenta tornando-se adolescente já nos setenta, a música de Bob Dylan só se tornou interessante quando este já tinha composto quase toda a sua obra musical importante.

Foi o meu caso e lembro-me de ouvir Dylan em altura incerta desse tempo, através daquelas publicações discográficas que passavam no rádio da época, com canções como  Mr. Tambourine Man ou Blowin´in the wind. O single George Jackson apenas reavivou o interesse em conhecer mais da obra do músico.




Depois disso é que se operou a descoberta de toda a sua obra anterior e tal demorou anos porque os discos que se publicaram antes não eram reeditados como hoje acontece nem havia mercado de usados como hoje existe na internet e em lojas especializadas que permitem com facilidade aceder aos artefactos originais e de época.

Assim é um agradável exercício de memória tentar perceber como conheci os discos anteriores de Bob Dylan já que da maior parte deles nem a capa conhecia e quando muito era das impressões a preto e branco, vistas em publicações ainda muito poupadas nas cores impressas.  

A revista Mundo Moderno de 1 de Junho de 1970 referia-se a Bob Dylan, com uma foto do artista, a propósito de um grande acontecimento da música popular nesse ano, o festival da Ilha de Wight, cujos ecos chegavam até cá numa aura mítica que se tentou reproduzir à escala nacional em Vilar de Mouros, no ano seguinte, precisamente no Verão de 1971.


A revista Mundo da Canção, publicada desde finais de 1969, trazendo muitas letras de canções da música popular, deu atenção a Bob Dylan logo no nº 3 de Fevereiro de 1970, com a letra de Tonight I´ll be staying with you que para mim então pouco ou nada significava embora seja um single publicado em finais de 1969 do disco Nashville Skyline desse mesmo ano e que só ouvi integralmente muito tempo depois, passados vários anos. No número seguinte trazia uma pequena biografia de Bob Dylan que também pouco adiantava para acrescentar interesse.


Em Maio de 1971 a mesma revista publicou a letra de uma das mais importantes canções de Dylan: Like a Rolling Stone, sempre mencionada nos programas de rádio em que se falava do artista, tal com o disco de 1966, Blonde on Blonde, tornado mítico por esta altura, por causa disso.


Em Abril de 1971 comprei o jornal Disco, música e moda cujo primeiro número tinha saído em Fevereiro desse ano e pela grafia do nome do artista, como “Bob Dilan”, escrita na capa do jornal, ainda nem sabia bem como se escrevia.


Em Setembro de 1972 a revista Tintin publicou um desenho que me impressionou deveras por causa do grafismo de um autor que depois conheci, Solé e que tinha um retrato estilizado de Dylan. O desenho original tinha sido publicado na revista francesa Pilote em 27.7.1972, a qual aliás vim a arranjar muitos anos depois.

 


Assim, tirando um par de canções emblemáticas,  praticamente não conhecia a obra de Bob Dylan até 1972. Havia tanto para ouvir nessa época que Bob Dylan era apenas mais um que estava em fila de espera para tal, como se fosse mais um single em juke box carregada deles.

 Em 1973 Dylan entrou num filme de Sam Peckinpah,  Pat Garret and Billy the kid e tal foi ocasião de publicação de um single extraído da banda sonora, composta pelo músico e que foi um sucesso: Knockin´ on heavens door que passava extensivamente  no rádio já no final desse ano, particularmente no programa Página Um do Rádio Renascença.

 Verdadeiramente só a partir de finais de 1974 comecei a dar atenção e então obsessiva à música de Bob Dylan, por causa de um disco ao vivo que então publicou, Before the Flood, com a participação dos The Band.

Comecei por ver a capa do disco numa publicidade na revista National Lampoon de Agosto de 1974, também em si espectacular pelo grafismo e apresentação.

 


Foi então que todas as músicas emblemáticas do artista se tornaram mais interessantes porque tocadas num contexto e arranjo diferentes do baladeiro de outrora.

O disco duplo é excelente e empolgante desde as primeiras músicas e tem outra vez Just Like a Woman em mais uma versão memorável. 

Tem ainda It ain´t me babe e Like a Rolling Stone, esta tocada e cantada de um modo diferente do original, de 1965, inserida em Highway 61 Revisited e que nunca ouvira até então, tal como nunca ouvira as obras primas musicais do disco do ano seguinte, Blonde on Blonde, talvez o melhor disco de sempre do artista e que também só ouvi integralmente vários anos depois de saber que existia como disco e cuja capa nem fazia ideia como era, antes de ouvir falar do mesmo, no rádio.

O aspecto das capas dos primeiros discos de Bob Dylan, da década de sessenta só as consegui ver pela primeira vez em Março de 1976, em fotos miniaturizadas na revista Rock & Folk e foi um deslumbramento, mesmo a preto e branco, tendo passado tempo a tentar descobrir que disco era o correspondente a cada imagem, nem sempre evidente.


 Blonde on Blonde, sem nomes na capa e foto desfocada era um mistério e a cores e ao vivo só a vi muitos anos depois, mas com uma pequena vingança: arranjei a edição original americana, a que traz a foto de Claudia Cardinali no interior da capa dupla e com gravação em mono, para mim a melhor de todas as versões, mesmo incluindo a edição cuidada de 2013,  em disco triplo da MFSL (OMR), que se tocam em 45 rpm em vez das habituais 33 e também a versão sacd de 2003, para além da edição Columbia Master Sound em cd super bit mapping.



Por causa da carga mítica de tal disco, por muitos então considerado um dos expoentes máximos da música pop, coleccionei vários exemplares em formatos diversos. A primeira vez que consegui um exemplar do duplo LP, um dos primeiros a serem publicados em tal dose (o primeiro é o de Frank Zappa e os Mothers, Freak Out, também de 1966) foi já em meados dos anos oitenta, em edição espanhola sofrível mas que dava para ouvir Just like a woman e o tema Sad Eyed Lady of the Lowlands a ocupar um lado inteiro do disco e que de vez em quando passava no rádio, em programas escolhidos e apresentados por gente que se especializara nessa temática da música popular que divulgava com assiduidade, como um certo João Filipe Barbosa ou Fernando Balsinha ou mesmo Jaime Fernandes, estes já falecidos.

Assim, desde finais de 1974 e até finais de 1978 a música e o artista Bob Dylan tornaram-se alvo de redobrada atenção e interesse, coligindo tudo o que encontrava na época sobre o assunto que aliás era esparso e relativamente raro de encontrar.

Então não havia como hoje a diversidade de fontes e iconografia disponível em jornais, revistas e livros com o acrescento da internet. Sempre que aparecia uma reportagem fotográfica ou um artigo interessante sobre o artista comprava e guardava.

Em Setembro de 1973, na sequência do filme,  apareceu nos quiosques a revista Rock & Folk que tinha esta capa com uma imagem tirada daquele filme de Sam Peckinpah e que se destacava das demais revistas a bambolear no cordel das lojas, com molas de madeira a segurar. Memorável, tal imagem.


A revista francesa era das que dava maior atenção ao artista embora desde 1966 a 1973 lhe tenha apenas consagrado quatro capas (uma em 1968, duas em 1969 para falarem de Nashville Skyline em comparação com discos anteriores e sobre o espectáculo na ilha de Wight, com várias fotos a preto e branco da prestação artística e a crítica a ter ficado apenas uma hora no palco) e outra em 1973 por causa do filme.  Depois disso só em 1978 numa capa desenhada a imitar a capa da Rolling Stone desse ano e em 1981. Só na década seguinte, em 1990,  Dylan foi capa da revista outra vez.



A Rolling Stone ainda foi mais poupada nas capas. Uma em 1969, com a primeira entrevista de fundo; outra em 1971; depois, em 1974 duas quase seguidas e a propósito da tournée que deu o disco Before the Flood, com os The Band; outra em 1976 a meias com Joan Baez a propósito da tournée Rolling Thunder Revue desse ano e depois a que me chamou mais a atenção, no início de 1978 e cujo número não chegou a Portugal a tempo de o ver,  com a primeira parte da grande entrevista de Jonathan Cott ao artista cuja segunda parte foi publicada no final desse ano e com capa dedicada, numa altura em que o meu interesse por Bob Dylan começava a esmorecer rapidamente. Só em 1984 a revista lhe voltou a dar a capa e outra entrevista. Na década seguinte, em Junho de 1997 a capa era dedicada ao filho, Jakob Dylan.

Não obstante foi durante os anos 74-78 que tal interesse se incrementou, muito por causa da míngua de informação disponível sobre o artista, na altura.

 A revista Pop, alemã,  publicou em Dezembro desse ano de 1974 a letra de It Ain´t me babe, uma afirmação de masculinidade serôdia relativamente às mulheres que me agradava e recortei tal letra colocando-a na estante, como sinal afirmativo e distintivo de independência afectiva. Pobre de mim! A primeira vez que tive ocasião de a pôr em prática ri-me de mim mesmo e dessa adolescência que se escoava pelo tempo que entretanto passara. 


Em 18 de Fevereiro de 1975 pelas 7 e meia da tarde, o programa Página Um, da Rádio Renascença passou pela primeira vez o disco de Dylan desse ano, Blood on the Tracks, julgo que a faixa Idiot Wind que nem era a melhor do disco mas que assumiu logo a importância de acontecimento maior e que ao longo das semanas seguintes foi um disco assíduo no programa.

Na edição desse mês da Rock & Folk que costumava chegar cá logo no início do mês, já teria visto a capa e por isso apontei lá que os temas que mais me impressionavam eram If you see her say hello que desmente aquele poema algo machista e Lily Rosemary and the Jack of Hearts, com toada country.


Antes da edição original tinha ouvido a espanhola, comprada no El Corte Inglès e uma versão posterior à primeira, com a letra branca em fundo grená.


No final do ano de 1975 a Rock&Folk mostrava outro disco, duplo de Bob Dylan, chamado The Basement Tapes e que era uma recolha de gravações antigas, de 1967 com os The Band em condições menos profissionais que o habitual, numa cave transformada em estúdio,  com um gravador de bobines, um Revox segundo então se escrevia mas que posteriormente, em 2014, com a publicação de todas as gravações originais se verifica ser um pouco mais profissional do que se dizia.

Tais gravações tinham sido guardadas e algumas ficaram parte de discos pirata do artista, como o célebre Great White Wonder, celebrado no rádio nos tais programas de especialistas da música popular que por vezes passavam à noite, com Fernando Balsinha e outros Jorge Lopes. A Crawdaddy de Maio de 1976 contava a história dos "piratas".


Em 1975 foi dado a conhecer o disco Desire e que aliás me deixou muito a desejar relativamente a Blood on the tracks, o que constituiu uma primeira desilusão relativamente ao artista, principalmente por causa do uso intensivo de um violino à moda cigana e tocado por uma tal Scarlett Rivera.

No final de 1975 comecei a comprar a revista Rolling Stone e logo no primeiro número aparecia um artigo sobre Bob Dylan com uma imagem fantástica de um palco da editora Columbia, com o músico lá ao fundo acompanhado por outros, incluindo a tal Scarlett, de branco vestida.



Um ano depois, no Verão de 1976 podia ouvir o disco Blood on the tracks integralmente em casa de um amigo que o trouxera de França, na versão local, tornando-se um dos discos que mais escutados dessa altura, a par do Abraxas de Santana e Kimono my House dos Sparks.

Foi esse certamente o disco que mais apreciei de Bob Dylan na época, ainda sem conhecer as obras primas dos anos sessenta, como Another Side of Bob Dylan, Highway 61 Revisited, Bringing it all back home, Blonde on Blonde e Nashville Skyline, para mim os discos mais representativos do artista, depois de os ter ouvido nas versões originais, muitos anos depois de saírem.

Em Março de 1976 a Rock & Folk mostrava-os quase todos, nas capas a preto e branco, o que me entusiasmava a conhecê-los, mas sem poder uma vez que estavam esgotados e não passavam no rádio, normalmente. Apenas uma vez ou outra sons esparsos de Blonde on Blonde e pouco mais. Nesse mesmo mês a revista Crawdaddy mostrava algumas fotos de Dylan, com os The Band e a referência à Rolling Thunder Revue  cujos ecos apenas chegavam cá por escritos como esse.



Com a memória de Before the Flood ainda muito fresca, em finais de 1976 foi publicado Hard Rain, um disco também ao vivo mas já definitivamente diferente daquele, sendo essa mais uma das desilusões que aliás se repetiram posteriormente, sem remédio. A revista Rock&Folk de Novembro de 1976 fazia eco também de uma desilusão a propósito de tal disco.



A voz de Dylan não era a mesma, os instrumentos e modo de tocar não eram do género do outro disco ao vivo e foi essa a primeira vez que senti que Dylan era um mito que passara á história.

Porém, a ausência de informação ou imagens do artista continuavam a alimentar parte de tal mito que durante o ano de 1977 e 1978 se tornou ainda relevante.

No final de 1976 Dylan participou noutro evento de grande relevo: o concerto de despedida dos The Band, a que chamaram The Last Waltz, aliás filmado por Scorcese e em que participaram artistas como Eric Clapton e Neil Young.





O filme de tal concerto passou depois nas salas, incluindo por cá, em 1978, tal como o disco do evento, um triplo que escutei então com algum interesse, mais por causa de Neil Young do que Bob Dylan.

No início de 1978, através da Rock & Folk soube que Bob Dylan dera uma entrevista à Rolling Stone, orientada pelo intelectual da revista, Jonathan Cott e procurei afanosamente a revista que entretanto tinha desaparecido da distribuição nos quiosques, desde o Verão de 1977 e só voltou a aparecer no Verão de 1978.

Perdi tal número e a entrevista, essa cheguei a lê-la, na primeira parte (a segunda só foi publicada no final desse ano)  na edição de 1 de Abril de 1978 da revista Música& Som que tinha então o exclusivo da publicação de artigos da revista americana. 


A capa desse número vi-a pela primeira vez numa vinheta do encarte de publicidade que a revista trazia em números posteriores, aliás com imagens de outros números que me tinham escapado e gostei da foto da autoria de Annie Leibowitz: 


Em Julho de 1978 a Rock & Folk copiou a capa em desenho de Jean Solé e que já  conhecia daquela vinheta:


Só muito tempo depois consegui a imagem original de tal capa que se tinha tornado mítica:


A entrevista tal como publicada originalmente:





A segunda parte da entrevista apareceu na Rolling Stone de 16 de Novembro de 1978, altura em que a revista já aparecia outra vez por cá, mas já tinha perdido quase todo o interesse, para mim:






Aliás, em 21 de Setembro de 1978 o director da revista tinha escrito uma crítica a refutar uma outra , esta negativa e da autoria de um dos reputados críticos da publicação (Greil Marcus) relativamente aos novos discos dos Rolling Stones (Some Girls)  e de Bob Dylan, neste caso Street Legal. Achei curioso que o director Jann Wenner fizesse tal coisa que aliás explicou anos mais tarde na sua biografia. 
Quanto a mim, não gostava por aí além dos dois discos ( gosto mais agora) e por isso não me ralei muito com a leitura. Mas gostei do anúncio ao disco, de Julho desse ano.


A crítica de Greil Marcus tinha aparecido em 24 de Agosto de 1978:


Gostei, apesar disso, da publicidade ao disco, em Julho: 


Em 22 de Abril de 1978 o jornal New Musical Express também publicou uma entrevista com Dylan mas não era a mesma coisa que aquela da Rolling Stone, o que me deixou algo frustrado.



Durante o ano de 1978 Dylan publicou o disco Street Legal de que procurei gostar mais do que me encantar novamente como da primeira vez, com Before the Flood e Blood on the tracks, mas a magia tinha desaparecido. Para sempre.

Apesar disso Street Legal ainda se ouve bem e de qualquer modo melhor que Desire, tal como o seguinte de 1979, Slow Train Coming, com a colaboração extensa dos Dire Straits, particularmente Mark Knopfler.

A partir daí nunca mais comprei discos novos de Bob Dylan em vinil (com a excepção do disco com a versão original de Blood on the tracks que tem uma capa muito inferior à do LP publicado em 1974)  e só aproveitei para conhecer todos os antigos, o que aliás me ocupou durante anos a fio, a procurar as versões originais de prensagem americana e também as versões em colectâneas que entretanto foi publicando na série Bootleg, com bastantes inéditos e na caixa Biograph publicada em 1985 e uma das primeiras a recolher músicas nesse formato, no caso em três cd´s e mais tarde cinco LP´s.



Finalmente em 2004 vi Bob Dylan no concerto em Vilar de Mouros, outra desilusão embora esperada porque a voz do artista se perdera muitos anos antes e só o grupo de músicos que o acompanhou valeu a pena ouvir. Quanto a Dylan, escondera-se com um chapéu, atrás dos teclados que fazia menção de tocar e sem luz directa. Só no final apareceu à boca do palco  a agradecer o obséquio aos milhares de presentes na audiência que ali tinham ido também para o verem.

Ao longo dos anos fui coleccionando coisas que me pareceram interessantes sobre Bob Dylan. 

 Livros e revistas:


E discos em formato cd:


E uma imagem da revista Uncut de 2003 em que se mostram as edições em sacd de alguns dos discos mais importantes de Bob Dylan. 


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Neil Young e os arquivos de 2020 30 Nov 2020 10:08 AM (4 years ago)

 Em Junho de 2020 Neil Young lançou um disco que ficara por conta dos "arquivos" que se seguiriam ao Vol.I.

O disco conhecido como Homegrown era um  que tinha sido guardado em 1975, depois de gravado e produzido, pronto para publicação. 

Segundo rezam agora as crónicas, o disco era para ser publicado logo depois de On the Beach, de 1974, só não tendo sido porque em audição conjunto com outros músicos, Neil Young decidiu que era melhor publicar Tonight´s the Night, gravado em 1973, em vez desse. E assim foi. 

Não obstante, ao longo dos anos houve quem se dedicasse a adivinhar as canções originais que faziam parte do disco guardado e o álbum tornou-se mítico por causa disso e da extrema qualidade que fazia lembrar Harvest e poderia ter sido o melhor sucessor de tal êxito de Neil Young. 

Na sua biografia, Waging Heavy Peace, Neil Young escreve que foi Rick Danko dos The Band quem sugeriu a troca. 

Num livro de 2014, The Greatest Albums you´ll never hear, o disco nem sequer tinha a capa bem definida. 



Também em 14.8. 1975, à revista Rolling Stone, Neil Young, falou no assunto: 







Por esta altura já eu andava à cata desta revista americana, que tinha visto em Abril pela primeira vez com olhos de ver ( o número que tem na capa Peter Falk) e que de repente deixou de ser distribuída por cá, tendo regressado no Outono desse ano. 

Nem conhecia a beleza gráfica e a cores desta capa antes da publicação das capas da revista por ocasião da celebração do XX aniversário, em 1987.

A revista Uncut de Junho de 2020 deu finalmente a conhecer o conteúdo do disco mítico e a audição do mesmo revela que é um dos discos fundamentais de Neil Young, com destaque para dois ou três temas com a participação do baterista Levon Helm, dos The Band: 





Talvez por causa destes artigos dava-se como assente que o tema Love/Art blues faria parte da lista, o que se verificou não ser o caso quando o disco apareceu pela primeira vez, em Junho de 2020. 

O tema ficou para outras núpcias, as de Novembro de 2020 quando foi lançado o tão esperado Archives Vol. II. Para compensar teve direito a três versões diferentes e qualquer uma delas vale a pena ouvir.

Esta compilação de arquivos refere-se aos anos de 1972 a 1976, um período fértil em produtividade musical de Neil Young e aliás o meu preferido porque foi nesse tempo que conheci a obra do músico e acompanhei a publicação dos seus discos. 

Assim, tal como a anterior, Vol. I. esta merece a audição atenta de todos os dez discos, agora em cd, alguns repetidos porque já publicados antes ( Tonight´s the night ao vivo- Roxy; Homegrown e Tuscaloosa). Tal audição pode também fazer-se no sítio dos arquivos de Neil Young, em resolução PCM 24/192kHz, o que é um regalo maior porque superior ao cd e próximo do som do vinil. Esta edição, ao contrário da anterior, do Vol. I não contempla a publicação de blu ray, com som e imagem sincronizados e que é uma maravilha. 



 


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CSN&Y, Neil Young, as cordas de aço da guitarra pedaleira e eu 19 Jan 2019 2:03 PM (6 years ago)


Como é que conheci a música de Neil Young? Seria com Harvest, de 1972? Não,  começou com certeza Teach Your Children, um tema que nem sequer é da sua autoria, muito tempo antes e ouvi essa canção no rádio.
A música trazia um instrumento logo no início que me pareceu novo porque não dava atenção ao country americano: a pedal-steel guitar que ainda não sabia mas era tocada nesse tema por Jerry Garcia que integrava os Grateful Dead, grupo também desconhecido por cá, nessa altura ( e depois).

Foi assim que tomei conhecimento com a música dos Crosby Stills Nash & Young, portanto do álbum Déja Vu de 1970 e o grupo tornou-se motivo de interesse relativamente a todos os músicos que o compunham, particularmente Neil Young e Stephen Stills, mas também Graham Nash e mais tarde David Crosby. Tudo até 1974.

Em meados de 1971 saiu um álbum ao vivo dos CSN&Y, Four way street. Duas composições- Right between the eyes, de Nash e Cowgirl in the sand de Young,  seguidas no disco, ficaram no ouvido e foram seguramente dois temas que me levaram a interessar pelo grupo, nos anos seguintes. Mais ou menos na mesma altura, G. Nash publicou o primeiro disco a solo, Songs for beginners que tinha Chicago que também me lembro de ouvir.

Em 1972 no rádio e no Página Um, passava o disco de Stephen Stills, Manassas e também o disco de Neil Young, Harvest, do mesmo ano.

No ano seguinte, 1973, Graham Nash publicou outro álbum que me encantava; Wild Tales. O motivo era o mesmo de Teach your children, a guitarra pedal-steel. A qual inundava igualmente o álbum de Neil Young.

Em 5 de Julho de 1972, entre as 19:30 e as 21.00 rodava Stephen Stills do disco Manassas e o tema What to do.











A revista Mundo da Canção nº 28 de 20.4.1972 serviu para o apontamento no tempo.


O disco de Neil Young saíra em Fevereiro desse ano e foi um sucesso em todo o lado, um dos discos mais vendidos de 1972, com Heart of Gold em número um, o primeiro de Neil Young. O disco foi gravado em parte num celeiro de um rancho que Young comprara no ano anterior. Anos mais tarde, em 2009, a colectânea Archives Vol. I tem videos de tais gravações e com versões das canções muito interessantes, particularmente as que integram a guitarra eléctrica, gravadas em sessão com os músicos e onde se vê a guitarra de cordas de aço e pedaleira.

Esta imagem tirada do livro que acompanha a referida colectânea, reunida numa caixa, mostra um dos responsáveis pela editora - Mo Ostin- no edifício Tower Records, Hollywood, na altura em que Harvest saiu, Junho de 1972. Ao lado o LP dos America que ainda não tinha Horse with no name, mas que se vendeu por causa disso.  E os Jethro Tull, com Thick as a Brick. Que época! Ainda se nota um pouco mais atrás à direita, caixas de Let It Be, dos Beatles, ou, vendo melhor, o disco simples, uma vez que parece ter a inscrição Let it be na capa, a branco  e a caixa não a tem.



Uncut Março 2009:


Uncut Julho 2009:




E na caixa dos Archives também traz um livro com ilustrações inéditas e este texto do pai de Neil Young, mais ou menos por essa altura do início dos anos setenta:


Página da revista Mojo Classic de data imprecisa e talvez a melhor revista consagrada ao artista. Nos anos setenta nenhuma destas fotos era conhecida publicamente. Esta foi tirada na mesma altura em que a foto que aparece no disco After the gold rush, anterior a Harvest:


Em 2010 saiu um livro que contém igualmente muitas ilustrações:


Página da Guitar World de Outubro de 2009:


Guitar Legends Julho 2011:




A Mundo da Canção do mês seguinte, Maio de 1972 até fez a capa com o artista e publicou todas as letras de Harvest.


A foto da capa não se encontra atribuída com créditos e é difícil de encontrar em sítios on line. Fui encontrá-la no livro Neil Young-Stories behind the songs 1966-1992, da Carlton Books, de 2002-2010. No caso o crédito é atribuído à LFI ( Leica Fotografie International).


Ah! E apareceu também na edição do Século Ilustrado de 19.8.1972 num artigo sobre o disco Harvest, sem créditos de imagem o que denota ser artefacto publicitário das editoras discográficas:





Em 1973 devo ter reparado nesta revista Rock&Folk à venda por cá, mas me recordo. A revista trazia apenas uma entrevista com Neil Young.


Os jornais e revistas de música que entretanto apareceram e fui comprando desde finais de 1969 nada traziam de imagens do grupo ou dos seus músicos individuais. Só a Mundo da Canção trazia por vezes letras de algumas músicas e mais nada.

Em Novembro de 1973 a revista francesa Best tinha uma crítica ao disco Time fades away que me interessou por ser de Neil Young. Ao lado o disco de Zappa, Overnite sensation que com o tempo se tornou mais interessante que aquele:


Assim o que conhecia do grupo como imagem era essencialmente dos discos que via aqui ou ali. E em 1974 já tinha visto e ouvido o suficiente para que o CSN&Y fosse o meu grupo preferido.

Em Julho desse ano apareceu na Bertrand este exemplar do NME. A capa trazia algo sem interesse especial sobre as escolas inglesas:


Porém, no miolo trazia esta imagem e texto sobre o disco On the Beach de Neil Young, acabado de sair. Um disco que se ouvia no rádio e era do Neil Young que me habituei a apreciar:


O jornal tinha ainda interesse por causa de uma imagem de um espectáculo que nunca tinha visto igual: mulheres nuas em palco, sem a indecência pornográfica que começava a aparecer em todo o lado...em Julho de 74, na sequência da abolição da censura era um must.


E nas últimas páginas do jornal uma lista de discos, com sublinhados dos que gostaria de ter e ouvir, na época que era sem margem para dúvidas, a grande época do rock anglo-saxónico, após o fim dos anos sessenta. Foi a altura em que descobri em tempo real e à medida que apareciam, os discos que ainda hoje são os meus preferidos.


Foi por isso que em Novembro desse ano venci as resistências em gastar dinheiro com a revista Rock&Folk  que via no quiosque e comecei a comprar, por causa desta capa que anunciava um artigo sobre os CSN&Y:


E trazia estas imagens algo longínquas do grupo, tiradas em Londres, num concerto em Wembley. Eram imagens sem música porque os discos de CSN&Y tinham ficado para trás, anos antes e só muito depois voltaram a aparecer, sem o brilho desta época.

Restavam os discos a solo, particularmente de Neil Young, porque também relativamente aos demais componentes do grupo, a produção musical deixou de ter interesse, para mim.

Tudo se tinha definido até 1974, com excepção de Neil Young relativamente ao qual o melhor ainda estava para vir.


Mas a imagem daquelas guitarras acústicas...era demasiado apelativa e só imaginar o som que produziam valia a pena olhar para a foto e sonhar um dia ter uma guitarra igual.
Esse som dos CSN&Y deste período foi publicado muitos anos depois, em 2014, em gravaçóes ao vivo, na América e em Wembley, durante o verão de 1974. Ouvindo-o e fazendo um flash back  não é frustrante porque o disco deveria ter saído na época e seria um êxito certamente. Com a diferença de 40 anos...não foi a mesma coisa.

Em 1975, o NME de 28 de Junho tinha esta capa que não deixei escapar, do tempo do lançamente de Tonight´s the night:


Imagem do livro History:


O disco original, com rótulo a preto e dizeres no interior central do disco "hello waterface" e "goodbye waterface". O cartão da capa é algo rugoso e tende a desfazer a camada de cor preta à superfície, com o tempo.


À frente o disco com "hello waterface e goodbye waterface"; atrás, com vista apenas da contracapa, o que tem apenas "goodbye waterface e soa melhor que todos.

E imagem da Rolling Stone de 23 de Outubro de 1975, a primeira que comprei:



No mês de Abril de 1976 a revista Rock&Folk dava o destaque devido a Neil Young e foi essa a primeira vez que tomei contacto visual com todos os discos do artista, bem como apreciações críticas.




No Outono de 1976 numa incursão Vigo, em Espanha, precisamente para comprar a viola acústica que via nas poucas imagens que apareciam de Neil Young e os CSNY e outros grupos ( NGDB, por exemplo) apareceu esta revista, com um dossier sobre Neil Young e uma imagem  que não conhecia, e que afinal era a capa interior de After the Gold Rush que nunca vira:


Em Dezembro de 1976 a revista Rolling Stone dava conta de um evento que foi depois mostrado em filme, durante o ano de 1978: o concerto de adeus dos The Band.
As imagens desse evento não eram muito explícitas mas o filme que vi depois, naquele ano, num cinema de Coimbra eram bem interessantes.


Em 2002 apareceu uma edição especial em 4 cd´s do concerto e a imagem de Neil Young que acompanhava o libreto era esta:


Ainda em 1976 a Rolling Stone de 9 de Setembro dava conta de uma série de concertos realizados por Neil Young e Stephen Stills, por ocasião da saída do disco da dupla Long May you Run que tem uma grande canção, precisamente a do título que me encantou na época e cuja versão ao vivo, no disco Unplugged, de 1993 é um portento.
Desse disco, na época só esse tema e um outro, Fontainebleau, merecia atenção. Com os anos, porém, há mais temas com interesse, incluindo alguns de Stephen Stills.

Esse ano é também aquele em que os concertos de NeilYoung permitiram gravações que foram reunidas agora reunidas no último disco de Neil Young, Songs for Judy, neste caso acústicas e escolhidas pelo fotógrafo Joel Bernstein, compilador também de iconografia do Archives Vol I.

Se tais canções tivessem sido publicadas oficialmente nesse ano de 1976 que maravilha teria sido! Com quarenta anos em cima, ainda se nota o que era a voz de Neil Young nessa altura e o modo de tocar que é a sua marca de água: composições simples, com poucos acordes e alguns de solmido, mas com uma categoria interpretativa rara.



Rock&Folk de Outubro de 1976



O ano de 1977 não passou sem novidades de Neil Young. E dos outros. Crosby e Nash publicaram no final de 1977 um disco ao vivo que tem uma magnífica versão de Immigration man.

Neil Young publicou um dos seus melhores álbuns- American Stars and Bars.


E a Rolling Stone de 2 de Junho desse ano tinha esta capa:


Por causa deste disco:



Em Novembro de 1977 tomei conhecimento com o disco Decade, triplo lp, através do NME:


Em Janeiro de 1978  a Rock&Folk também anunciava esta colectânea de Neil Young   e  recenseava o álbum.




Os temas do disco em dose tripla eram todos de ouvir atentamente, incluindo alguns temas inéditos, como Winterlong, Deep Forbidden Lake ou Campaigner.
Só alguns anos depois arranjei o álbum mas vale a pena, mesmo por causa de algumas versões de canções antigas. Prefiro ouvir nesta colectânea as versões do disco Tonight´s the night, o que é estranho porque não deixa de ser uma reedição. Tired eyes soa-me melhor neste disco do que no original, primeira prensagem americana, o de rótulo preto com os dizeres Hello Waterface [ouvindo outro exemplar, o que tem "goodbye waterface" no lado dois e inscrição na parte "morta" do disco MS 2221 31884 RE-I-12 parece-me que este soa melhor do que qualquer outro que ouvi, apesar da primeira impressão colhida com o exemplar MS 2221 3184 RE-I-6 IT hello waterface. Fica a correcção porque o tempo de apreciação tem mais de um ano de diferença]


Melhor que esta colectânea só a de 2009, Archives Vol I.

Em Abril de 1978 aproveitei uma imagem da Rock&Folk para desenhar...


A camisa de rugby verde e azul tinha inspiração numa publicidade que tinha visto na Crawdaddy de Fevereiro de 1976, o primeiro número que comprei, dessa revista concorrente da  Rolling Stone e ainda mais antiga. Andei anos a tentar encontrar uma camisa dessas e com essas cores. Nunca encontrei a real thing, apenas uns sucedâneos, o último dos quais da Gant, já nos anos 2000.




O ano de 1978 ainda viu a publicação de Comes a Time, durante o Verão. O disco tornou-se o melhor disco do ano na altura, para mim, por vários motivos. Este anúncio da Rolling Stone resumia o aspecto icónico do disco, com a viola acústica Martin D 45.


Em Agosto a Rock&Folk trazia a recensão crítica:


Em Janeiro de 1979 a mesma revista dava a capa a Neil Young desenhado por Tardi:


Nessa altura andava em letargia sonora, o que durou alguns meses e o que me despertou, literalmente, foi uma altura  em que ouvi os primeiros acordes de Pocahontas um tema deste disco que é outro dos mais interessantes de Neil Young, saído em meados desse ano de 1979, aqui numa publicidade do jornal Melody Maker e na recensão crítica da Rock&Folk de Agosto desse ano.



A seguir a este disco o interesse na música de Neil Young esmoreceu e com os anos apenas foi retomado num disco ou outro, como em Hawks and Doves, de 1980,  ainda um disco à antiga de Neil Young. Old Ways ou Freedom já pertencem a outra fase que nunca mais foi igual à dos discos até 1980.
Nas décadas seguintes os artigos em revistas da especialidade, sobre Neil Young, multiplicaram-se e refizeram a história ilustrada que fui acompanhando desde 1972, sem conhecer quase nada mais, além de algumas canções dos discos.
Com o aparecimento do cd, em meados da década de oitenta, os discos de Neil Young tornaram-se mais fáceis de encontrar, mormente os mais antigos, embora alguns fossem publicados em cd apenas décadas depois, como foi o caso de Times Fades away e On the Beach.
Por outro lado Neil Young nunca foi adepto do som do cd, que considerava inferior ao do lp.
Em 2009 foi publicada uma colectânea de vários discos em diversos formatos, com destaque para o blu ray que Neil Young considerava então o máximo na reprodução sonora e dizia-o nas entrevistas publicadas na altura, como se pode ler acima.

Tal colectânea em blu ray compreende 10 discos que incluem o filme inédito nesse formato, Journey Through the past. Intitulada  Archives Vol I, abrangia o período até Harvest e na época Neil Young prometia a continuação para dali a dois anos, uma vez que o trabalho de selecção já se encontrava em andamento.
Enfim, já lá vão quase dez anos e o segundo volume continua sem sair. Ao longo destes anos tem sido publicados, em formatos variados, incluindo agora lp´s com nova prensagem, discos antigos, posteriores a Harvest , todos com a indicação  inscrita na capa, "because sound matters".
Porém, têm sido publicações algo desgarradas e sem a coerência daquele Vol. I  que além do som, em blu ray ,excelente, contém imagens de arquivo e animações das reproduções com mostra de equipamentos, como gira-discos, gravadores de bobines, documentos com as letras, que acompanham em tempo real a reprodução sonora.

A última publicação, do final de 2018 é uma colectânea intitulada Songs for Judy que  recolhe canções acústicas, tocadas ao vivo em 1976 e  coligidas por Joel Bernstein, um fotógrafo e colaborador de Neil Young na organização daquele Vol .I

Nos anos setenta, Neil Young chegou a gravar discos que não foram lançados e seriam certamente grandes sucessos, como Homegrown, cuja história se conta aqui.  Outro disco que foi lançado em 2017, Hitchhiker, reune vários temas que foram publicados anteriormente, com inéditos.

Seja como for, a produção musical de Neil Young a seguir a Harvest daria uma excepcional colectânea Vol. II se fosse lançada e tal parece depender unicamente da vontade do músico, até hoje sempre adiada.

Resta esperar que um dia destes se lembre que está na altura de o publicar.

Para além disso, o sítio Neil Young Archives permite, como sucedâneo, apreciar  as canções do Vol I e os discos quase todos do artista, em resolução sonora muitas vezes próxima do máximo que o blu ray permite. É pena no entanto que fique circunscrita ao formato PCM e não tenha dsd. Não me parece que seja a alternativa ideal ao tão esperado Vol II...

Guitar World, Outubro 2009, mais imagens, uma delas repetida ( a do celeiro em que foram gravados temas de Harvest e aparece no filme Journey through the past, incluindo imagens captadas ao longe, com Neil Young no campo aberto e um som que vem de lá, num efeito estranho):


Os artigos que seguem são da Mojo Classic de 2005:




Imagens das guitarras. Faltam as Martin que serviram para gravar Harvest e sobra a D-28 que aparece indicado como tendo pertencido a Hank Williams.


Em Julho de 2001 tive o privilégio de ver ao vivo Neil Young em Vilar de Mouros e o seu grupo de músicos que o acompanharam em muitos desses discos acima mostrados.  Foi um grande momento em que apreciei em tempo real a execução das canções que já conhecia e observei ao vivo o que tinha já visto em fotografias:  performance dos músicos a tocarem uma música de que sempre gistei, desde a minha adolescência. Daí o privilégio.  Ao contrário de Bob Dylan também presente em 2004, Neil Young mantinha todas as características sonoras e vocais e nesse aspecto foi um espectáculo completo e inesquecível.
Porém, à semelhança de Dylan igualmente prolífico e coleccionador de gravações antigas, o melhor do músico está no que criou nos anos setenta. Daí o interesse pela edição de discos antigos e obras esquecidas ou nunca publicadas.

Em Setembro de 2017 a revista Uncut dedicou-se a  elencar os álbuns de Neil Young que foram ficando para trás, não tendo sido publicados apesar de prontos. Coligiu os seguintes, incluindo os temas que supostamente poderiam fazer parte, muitos deles publicados noutros discos ao longo dos anos. O exercício é interessante:


Em 2012 Neil Young publicou a sua autobiografia que intitulou Waging Heavy Peace. Só recentemente a li e vale a pena pelas histórias que conta, em capítulos curtos e não diacrónicos. Neil Young revela-se como apreciador de combóios de brinquedo e também de carros antigos que compra em estado de recuperação dedicando tempo a tal tarefa.
De resto conta alguns episódios relacionados com a gravação dos discos, desde o tempo dos Buffalo Springfield até ao momento da escrita.
Explica o que se passou com alguns discos, como o primeiro a solo que foi remisturado em algumas composições quando se apercebeu que tinha sido misturado de modo que entendeu incorrecto ou quando comprou algumas centenas de milhar de exemplares de Comes a Time, em 1978, por ter sido mal gravado e as destruiu.




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Bob Dylan-as duas versões de Blood on the tracks 20 Nov 2018 2:56 PM (6 years ago)

Foi agora lançado um disco de Bob Dylan que esteve para ser publicado em finais de 1974 e a alguns dias de o ser foi suspenso e regravado com outros arranjos, sendo substituído pela nova versão que saiu no início de 1975.
A capa do disco agora repescado é feiosa e o lettering lembra o de um disco de Ry Cooder ( Get Rythm, de 1987).


O disco que saiu em 1975 tinha outra beleza estética e esta é a capa original da primeira versão americana, com a cor purpurínea e imagem granulada:


Toda a informação que segue foi extraída da leitura de jornais, revistas e livros que se publicaram sobre Bob Dylan ao longo destes mais de 44 anos e que gosto de lembrar e principalmente reler. Na década de setenta eram escassos e reduzidos à Rock&Folk, Rolling Stone, New Musical Express e pouco mais. Em Portugal a informação reproduzida nos poucos meios de imprensa musical ( Mundo da Canção, Disco, música e moda e depois Música&Som, já nos setentas) era toda feita de releituras daqueles.
O rádio ( alguns, poucos, programas) era a fonte privilegiada de audição dos discos e sem televisão ou internet poucas imagens havia de Dylan ou da sua obra.
Havia um filme- Don´t look back, realizado por um adepto do "cinema-verité", de câmara na mão, D. A Pennebaker, de 1967) e que mostrava imagens do Dylan de 1965 a interpelar repórteres e a desconcertar respostas a perguntas fora de tempo. Desse filme a  preto e branco viam- se por vezes na tv imagens num ou noutro programa dedicado à música popular ( Disco&Daquilo, por exemplo). Era um maná quando tal acontecia.
Por isso a informação disponível era muito escassa o que contribuía para aumentar a curiosidade e o mito.
A publicação, a partir de 1991, da série de discos "bootlegs", quase todos em cd e que já vai no 14º volume, ajudou muitíssimo a conhecer a obra musical de Bob Dylan, anterior aos anos setenta.

A reedição em sacd em 2003 de cerca de 15 discos de Bob Dylan,  contribuiu também muito para o conhecimento de alguns discos fundamentais de Bob Dylan em condições sonoras muitíssimo melhores que as que apareciam nos cds vulgares. O sacd é a expressão máxima do suporte de som depois do vinil. Tenho os discos lp´s originais e alguns sacd.




As revistas e livros sobre Dylan também se multiplicaram ao longo dos anos, mas em 1975 ainda não existia tanta documentação e as revistas traziam um ou outro artigo, para além da recensão dos discos.
Nos anos noventa e dois mil começaram a aparecer números especiais e artigos esparsos sobre a figura, com maior assiduidade e permitiram conhecer o artista retroactivamente.


Tudo isto é posterior aos anos setenta, com excepção do Illustrated Record que a Harmony Books publicou em 1978 e traz toda a discografia do artista até essa data com reproduções das capas dos discos em tamanho e cor naturais.

Entre  Setembro de 1974 e  Outubro de 1975, auge da minha descoberta e interesse pela música do artista, por causa daqueles dois discos- Before the Flood e Blood on the tracks- não encontrei nada de especial nas revistas que lia, particularmente a Rock&Folk; para além da simples recensão ao disco Blood on the tracks, nada de nada. Nem uma foto.

Assim, quando em Novembro de 1975 vi pela primeira vez nos quiosques a revista Rolling Stone de que andava afanosamente à procura desde o Verão, comecei logo com uma imagem icónica do Dylan que ainda não conhecia bem.

Logo no primeiro número apareceu esta foto e notícia sobre Bob Dylan que me fascinou pelo cenário e pelo significado. Era a primeira vez que via o artista no seu ambiente musical.

Em primeiro plano um dos responsáveis pela carreira de Bob Dylan, no começo dos anos sessenta, John Hammond.


A imagem tinha uma força expressiva rara e esse número da revista conferia um ar americano a algo que o era e não estava habituado a ver impresso. A paixão pela revista reforçava-se nos textos, imagens e publicidades, tudo misturado e relativo à música popular e até outros assuntos.

A imagem reporta-se a uma presença de Bob Dylan  num programa especial de tv para homenagear John Hammond e mal eu sabia que décadas depois poderia ver as imagens do programa e dessa fotografia através do You Tube...



Assim, quando Blood on the tracks saiu por cá, em importação e nos primeiros meses de 1975 não eram muitas as lojas de discos que o tinham. A cor da capa só a vi um ano depois, num disco trazido de França e por cá ainda não havia prensagem nacional, suponho. Bob Dylan não era assim muito popular, por aqui, em 1975.

A primeira versão do disco tinha uma contra-capa com um texto de Peter Hamil, impresso a preto sobre o bordeaux, pouco legível por isso. A terceira versão, um ano depois,  já tinha o texto em branco e depois desapareceu o texto e ficou uma ilustração. Foi esta versão a primeira que comprei e ouvi, em edição espanhola, como se mostra abaixo. Depois a que tem letras brancas no fundo, com prensagem americana da Terre Haute e de 1976 em 3ª prensagem e por fim a original, a melhor e mais perfeita.


O disco que se chamou Blood on the tracks foi gravado inicialmente em Setembro de 1974, num estúdio de Nova Iorque.
Segundo agora se conta nas revistas da especialidade, o disco estava pronto mas um irmão de Dylan sugeriu novos arranjos num estúdio de Minnesotta, em Minneapolis, o Studio 80 e assim aconteceu durante os últimos dias do mês de Dezembro desse ano.

O disco, segundo esta última versão foi lançado no início de 1975 e por cá o programa de rádio Página Um, animado por Luís Filipe Paixão Martins passou alguns temas ( Idiot Wind, principalmente), a primeira vez em 18 de Fevereiro de 1975, com a colaboração de um correspondente em Londres, Fernando Tenente. Lembro-me porque ouvi essa emissão e apontei a data. Nos dias seguintes era disco que passava sempre e Idiot Wind já chateava de tanto passar. Preferia ouvir Lily Rosemary and the Jack of Hearts.

O disco era um espanto musical e em 1975 estava preparado para ouvir Dylan de novo e essa foi a melhor oportunidade.
No espaço de um ano, entre  Janeiro de 1974 e  Janeiro de 75, Dylan tinha publicado Planet Waves, Before the Flood e Blood on the tracks.
Até ao final de 1976 iria publicar ainda mais: Basement Tapes, duplo e colecção de temas de 1967, gravados artesanalmente com os The Band e que tinham sido antes pirateados em disco , tornando-se objectos de um culto desconhecido por cá. Desire e Hard Rain, este, também ao vivo e  já no final de 1976.  De todos, o que se destaca é Blood on the tracks.

Rock&Folk de Fevereiro de 1975:


Agora, 44 anos depois, Bob Dylan publica a primeira versão gravada em Nova Iorque. O resultado: More Blood, More Tracks. Na versão em lp, o álbum é duplo e contém os temas originais e mais dois inéditos. A versão em cd, multiplicados por seis, contém os temas gravados em Nova Iorque, alguns em Minneapolis e variantes às dezenas, de "takes", tentativas em estúdio de aproximação ao som final do disco.
A gravação em vinil é excelente ( já a tenho) embora as versões, na minha opinião, sejam inferiores às do disco que acabou publicado. Os arranjos dos temas no disco gravado em Minneapolis são verdadeiramente excepcionais. If you see her say hello, por exemplo, é  luxuoso, tal como Lily, rosemary and the jack of hearts ou You´re a big girls now, em tom acústico de guitarras entrelaçadas. A versão nova iorquina é frugal e contida, quase artesanal. Comparada com aquele luxo de arranjos perfeitos é disco de maquete,  embora um ou outro tema seja preferível. É o caso de Idiot Wind que na versão final é saturada e longa enquanto na versão original de Nova Iorque é mais simples e acústica.

Tudo junto,  o disco agora publicado é mais um documento de uma época musical de Bob Dylan. Aliás faz parte da série dos Arquivos "piratas", já no vol. 14.
A versão publicada em 1975 é final, perfeita e um dos melhores discos de Bob Dylan. Ainda bem que o irmão de Dylan o orientou na regravação. E ainda bem que agora se publica o que ficou nos arquivos durante tanto tempo. Uma ou outra versão tinham já aparecido noutros álbuns de recolha de coisas antigas de Bob Dylan e a versão pirata fica muito atrás desta nova versão original e de estúdio em qualidade sonora.

Antes de 1974 o meu conhecimento da obra musical de Bob Dylan era escasso e tenho memória imprecisa. Tirando um ou outro clássico, como Blowin in the wind , Mr. Tambourine man ou outros mais definidos ( Just like a woman, por exemplo) ,  a produção musical de Dylan não justificava muita atenção porque não tinha acesso aos discos e era muito novo para tal, nos anos sessenta.

Então não existia a facilidade do imediatismo de hoje em ouvir virtualmente quase tudo o que se publicou musicalmente, através de alguns cliques no computador.
Nessa época os discos passavam no rádio e quem tinha dinheiro comprava-os nas discotecas quando eram editados por cá ou importados. Passando a onda desapareciam dos escaparates e do mercado porque nem havia lugar de compra de usados como hoje. Quem os tinha adquirido ficava com eles e quem não aproveitou a oportunidade só dali a anos o poderia fazer em eventuais reedições e Dylan era caso disso.  
De resto, a música esquecida ficava para trás. 
Com o aparecimento do cd, em meados dos oitenta e as reedições de discos antigos e algo esquecidos  alterou-se  tal estado de coisas. 

No que se refere a Bob Dylan e aos seus discos anteriores a 74 só em 1976 dei conta das suas capas e ainda assim a preto e branco e apenas os publicados até 1966.  Até aí nunca as tinha visto. Foi na Rock&Folk de Março de 1976 que trazia uma recensão crítica aos discos de Dylan, anteriores e alvo de  importação, em França. 


Antes disso, em Portugal, pouca informação havia sobre Dylan e a que existia provinha dessas revistas estrangeiras. 

Em Março de 1970 a revista Mundo da Canção, no seu nº 4, publicou uma página com uma pequena resenha da obra de Dylan, com citações de americanos ( da Crawdaddy) e franceses ( Rock&Folk).



Em 1970, porém, Bob Dylan para mim era mais um mito do que um autor musical. Nem conhecia ainda a  obra-prima Blonde on Blonde, de 1966 ou a anterior Highway 61 Revisited e muito menos Bringing it all back home.
Todo esse conhecimento é posterior a 74 e nessa altura só ouvia Dylan em imagens por não passar muito no rádio e não ver os seus discos à venda. Além disso havia ainda a música de muitos outros que me pareciam mais interessantes. 

Em 1969 Dylan tinha ido ao festival da ilha de Wight e tinha sido notícia e até uma cantiga francesa, de Michel Delpech, um êxito por cá, o lembrava ( Wight is Wight) e trazia o verso "Wight is Wight Dylan is Dylan" que ficava no ouvido e na memória para o mito.

Aqui na revista Mundo Moderno de 1 de Junho de 1970:


E aqui, no jornal Diário Popular de 6 de Novembro de 1970:


Em  finais de 1971 a publicação do album Greatest Hits Volume II terá sido alvo de atenção no rádio mas não me recordo.  Foi porém nessa altura que saiu um single, acoplado ao album ( vinha no interior, em bónus) , sobre um certo George Jackson, que então escutei como se fosse mostra da modernidade de Dylan, depois das baladas idiossincráticas do começo e que me pareciam algo fastidiosas, se comparadas com os temas da altura, muito mais apelativos, como os dos Rolling Stones de Sticky Fingers, Imagine de John Lennon ou  My Sweet Lord de George Harrison.



Em Janeiro de 1972 saiu o triplo album do concerto para o Bangladesh, organizado por George Harrison, em que Dylan participou e cantou Blowin in the windHard rain is gonna fall e Just like a woman . Suponho ter ouvido esta música nessa altura, tendo-se tornado um dos meus temas preferidos de sempre, todos os géneros confundidos. Essa versão, aliás, é uma das melhores que conheço, muito simples e directa, a que se segue uma versão não menos interessante de Something, de George Harrison.
Em 1973 a banda sonora de Pat Garrett & Billy the kid, um filme anódino, trazia o single Knocking on heavens door, esse sim, muito passado no rádio. 

Por causa disso lembro-me desta capa da revista Rock&Folk de Setembro de 1973, dependurada nos quiosques: 


 Em finais de 1974 a Página Um começou a passar com frequência alguns temas, antigos mas tocados de maneira empolgante por um grupo que então o acompanhou na tournée americana e que ainda nem conhecia: os The Band. Algumas composições aí apresentadas, como Like a Rolling Stone ou outra versão de Just like a woman, ficaram para sempre na memória como os standards dessas músicas do autor. Todo o álbum é um festival de alegria musical contagiosa e que Dylan nunca mais reproduziu com a mesma qualidade ( o seguinte, ao vivo, Hard Rain, de 1976 é uma pálida imitação).
Na falta de informação, mormente sobre o disco, várias vezes voltei a esta publicidade para olhar para a capa, a preto e branco. Só muito mais tarde arranjei o disco na versão original, para a etiqueta Asylum.


Por causa destas músicas tinha este recorte da revista Pop, alemã, à vista.



E também um recorte com a letra de Like a Rolling Stone  da revista Mundo da Canção de 20 de Maio de 1971, com anotações em função da música que ouvia no Before the Flood ( de 1974).


O disco Blood on the tracks mais o anterior, ao vivo, Before the Flood tinham definido a arte musical de Bob Dylan que gostava de ouvir. Até hoje.
Basement Tapes, publicado em 1975 não me suscitou curiosidade na altura. Só agora, para este escrito o voltei a ouvir. É muito melhor e mais interessante do que me lembrava.  Mesmo na versão em vinil dos anos noventa, série Nice Price. Tem músicas gravadas em 1967,  artesanalmente, com os The Band em parceria. Mesmo com todos os encómios da crítica nunca me convenci na altura a escutar mas deveria tê-lo feito porque é muito superior a...Desire  que saiu no mesmo ano. Tem verdadeiras pérolas da arte de Dylan ( Million dollar bash, tears of rage, too much of nothing, you ain´t going nowhere, nothing was delivered, para citar algumas e que serviram muito bem os Byrds em alguns discos, como o seminal Sweetheart odf the rodeo, um dos primeiros do country rock, em 1968).

Rock&Folk Setembro 1975:


Durante o ano de 1976 houve algumas imagens que apareceram na Crawdaddy  de Março desse ano e que referiam Dylan e uma fantasmática e mítica Rolling Thunder Revue.


Uma foto de Dylan à boleia do líder do grupo The Band, Robbie Robertson, assunto de capa da revista desse mês.



Em Maio a revista mencionava os discos pirata de Dylan, além de outros. Lá aparece o Basement Tapes e o mítico The Grat White Wonder.


O disco ao vivo Hard Rain acabou por ser uma desilusão apesar de alguma boa vontade em escutar novas versões de antigos temas aliás retomados em Before the Flood, sem efeito redibitório. Before the Flood é um clássico. Hard Rain é o começo da decadência de Bob Dylan, para o meu gosto. Na verdade, com o tempo, tornou-se um disco inaudível, mas em 1976 era ainda interessante, porque me lembrava o Before the Flood, dois anos antes. Contudo, a voz e acompanhamento musical pouco tinham a ver com esse.





  Em finais de 1976 ainda houve outro acontecimento que teve Dylan como protagonista: a participação no último concerto dos The Band, realizado no dia 25 de Novembro de 1976 ( Thanksgiving)  em S. Francisco.

A edição de 30 de Dezembro de 1976 da Rolling Stone trazia uma reportagem desenvolvida sobre o evento.
Sobre Bob Dylan dizia que tocou e cantou em 4 temas e tinha recusado aparecer no filme que estava a ser gravado por Martin Scorsese, por causa de outro filme seu, prestes a ser lançado ( Renaldo e Clara que nunca vi).
Seja como for, esse concerto foi gravado em disco que foi lançado em 1978 e em filme também mostrado nesse ano e que vi numa sala de cinema.
O filme só tinha duas canções de Bob Dylan, das quatro que cantou a solo e foi lançado em dvd em 2002 e posteriormente ( 2006)  em blu ray.




Durante o ano de 1977 não vi nada de Dylan nas revistas e jornais que então comprava e guardei( Rolling Stone, Crawdaddy , Rock&Folk, New Musical Express e Melody Maker). 

Foi preciso entrar o ano de 1978 para dar conta de uma notícia acerca de Bob Dylan: uma entrevista longa à mesma Rolling Stone, em 26.1.1978, conduzida pelo intelectual de serviço, Jonathan Cott.

A primeira indicação dessa entrevista apareceu na Rocj&Folk de Março desse ano, em que se aludia ao tal filme Renaldo e Clara ( uma estopada com várias horas e que nunca teve sucesso...):


A capa da revista só a vi mais tarde. Nesse ano e desde o mês de Julho do ano anterior, não aparecia à venda em Portugal.
E este era um problema porque a procurava avidamente todos os quinze dias, durante a segunda metade de 1977 e o mês de Abril de 1978, altura em que voltei a ver a capa no quiosque ( Tivoli, Coimbra, segundo penso) e recomecei a comprar.
Portanto, em Janeiro de 1978 quando a entrevista saiu ainda não conhecia a capa que era esta, com uma fotografia de Annie Leibowitz.


Esta capa fascinou-me logo que a vi e não foi na revista que ainda não aparecia em Portugal.
Nessa altura a revista Música&Som que se publicava desde finais de 1976 conseguiu um acordo de publicação dos artigos da Roling Stone, para Portugal e no número de 1 de Abril 1978 dava conta da publicação da referida entrevista em dois números seguidos.


Em 22 de Abril de 1978 o NME tinha esta capa e trazia uma entrevista com Dylan, diversa daquela:


Na entrevista Dylan explicava que antes de 1966, altura em que teve um acidente de moto que o imobilizou durante um tempo largo não era muito conhecido e não lhe davam qualquer importância fora do meio jornalístico musical. Depois, tornou-se um mito.


E foi nesse número que apareceu o anúncio do disco ( triplo)  da Última Valsa que tinha sido gravado no final de 1976 no espectáculo no Winterland de S. Francisco.


Um pouco mais tarde conheci a capa da Rolling Stone de um modo improvável. Como recomecei a comprar em Abril a revista dei conta de que nos cupões de anúncio para assinatura, ligeiramente colados e próprios para remessa pelo correio, apareciam de vez em quando as fotos de algumas capas anteriores.

Em 27 de Julho de 1978 aparecia este que tinha a referida capa e que no caso recortei para juntar a outros recortes e colagens. Na altura não tinha qualquer um dos números mostrados.


No mesmo mês de Julho a Rock&Folk aparecia com esta capa. Um desenho de Jean Solé que reproduzia aquela foto...


O artigo de fundo referia-se aos concertos que Dylan nessa altura dava nos EUA:


Em 24 de Agosto de 1978 a Rolling Stone fez a recensão crítica de um novo disco de Bob Dylan, Street Legal. A crítica de Greil Marcus era arrasadora.


O disco, para mim que ainda sentia o fascínio pelo mito, era muito audível mas já não era da mesma categoria de Blood on the tracks. Embora não tenha apreciado o disco de final de 1975, Desire, este também deixava algo a desejar.

Aos poucos fui perdendo interesse na música de Dylan, principalmente quando comparava as novas músicas com toda a produção anterior.


A crítica a esse disco foi de tal forma que o director da publicação, Jann Wenner se viu na obrigação de vir salvar a honra de um convento já sem grande defesa, na edição de 21 de Setembro. Dylan juntava-se aos Rolling Stones nas críticas desfavoráveis e Wenner vinha defender os artistas dos seus próprios críticos rock, aliás dos melhores.


Para mim, a música de Dylan também já não me oferecia o mesmo prazer que a antiga e quando em Novembro a revista publicou a segunda parte da entrevista, tinha já ficado para trás algum do encanto
e fascínio.


A música de Dylan, até 1975, teve o condão de refazer um mito, mas desde então o mito foi desaparecendo aos poucos.  E tudo o que resta é a mesma música, a que ouvi até 1975 e Blood on the tracks.

Por isso comprei o novo lp com as canções originais gravadas em Setembro de 1974. Algumas delas, duas pelo menos, já as conhecia das gravações que entretanto foram saindo ao longo dos anos na série Bootlegs.

A história pregressa de Dylan fui-a lendo ao longo dos anos, à medida em que saíam aqueles números especiais das revistas e alguns livros.

Em 2004 Bob Dylan veio a Vilar de Mouros. Vi-o lá, no palco, refugiado atrás dos teclados e por baixo de um chapéu e óculos escuros. A voz, essa, pareceu-me ridícula.

O mito já há muito que tinha acabado, para mim.

E no entanto, continua...

Em 1978 o interesse musica tinha mudado um pouco. Para aqui, por exemplo, para este disco que era o que mais gostava de ouvir nesse ano:


O top de 1978, no fim do ano foi assim organizado: Street Legal ainda estava em 4º lugar. Hoje, nem isso.
O disco que ficaria em 1º se fosse hoje, seria Before and After Science de Brian Eno. Seguido de  Studio Tan, de Frank Zappa e The man-machine dos Kraftwerk. E depois, Dire Straits.


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Música em 1977 29 Apr 2017 8:56 AM (8 years ago)

Há quarenta anos, nestes meses, recordo-me de ouvir estes discos no rádio.


O primeiro, de Roy Harper, Bullinamingvase, certamente passado por Jaime Fernandes num dos seus programas, viria a tornar-se disco do ano, para a revista Música&Som.
 Roy Harper era passageiro habitual nesses programas com música dos discos anteriores e particularmente de Valentine ou Stormcock ou particularmente HQ, de 1975,  muito escutado.
Quando saiu este disco nos primeiros meses de 1977 o título One of those days in England que passava logo na primeira faixa e depois no segundo lado, inteiro,  com as partes 2-10,  tornou-se um dos meus preferidos de sempre  da música popular.







O disco de Peter Gabriel era o primeiro a solo, depois de sair dos Genesis e apareceu também nesses primeiros meses, notando-se pela sucessão dos temas, com destaque para Solsbury Hill e o final majestoso Here comes the Flood.



A par desses e também através dos programas de rádio de Jaime Fernandes ouvia os Nitty Gritty Dirt Band, do album triplo Dirt, Silver and Gold que conjugava temas dos álbuns publicados até então, incluindo Uncle Charlie e o tema fabuloso Mr. Bojangles que adorava ouvir tal como a sonoridade acústica das guitarras que imaginava serem Martin e me fascinavam pelo design e pelo som.
 Tal sonoridade acústica repetia-se nos discos de Leo Kottke que também passavam assiduamente nesses programas, por exemplo com Pamela Brown.

 Nessa altura comprava a revista Rolling Stone que chegava Portugal com algumas semanas de atraso relativamente à data de capa.

A de 10 de Março desse ano tinha esta capa e o nome de Arlo Guthrie que já me interessava.


Na penúltima página vinha este anúncio que pela primeira vez mostrava alguns discos da NGDB, incluindo o célebre Will the Circle be Unbroken, também passado nos programas de Jaime Fernandes.





 O disco dos Wings era outro que me fascinava então pela capa e pelo conteúdo. Sendo triplo, tinha uma face acústica num dos discos em que Paul McCartney cantava temas antigos que nem conhecia, acompanhados com a Ovation, uma guitarra acústica saída nesse tempo.
 A sequência do lado três, começava com Picasso´s last words e Richar Cory que não conhecia e continuava com Bluebird, I´ve just seen a face, Blackbird e Yesterday. Imbatível. E o disco começava com as peças musicais de Venus and Mars que já conhecia do disco original.

A capa era um luxo gráfico, mesmo mostrada a preto e branco pela Rolling Stone de 27 de Janeiro de 1977



 O disco original mostra toda a beleza das cores subtis da pintura de Richard Manning:


 George Harrison, outro dos Beatles,  nessa altura era apenas uma lembrança do tempo dos Beatles e de My Sweet Lord, ouvido no início de 1971.
Nos primeiros meses de 1977 comecei a ouvir uma sonoridade langorosa de Dear One, do disco 331%3  e ouvindo o disco todo tornou-se um dos preferidos desse ano. Ainda hoje é um disco que se ouve muito bem.


Outro grupo inglês que então me impressionou, passados anos sem ouvir algo de interessante para além de Lola, foram os Kinks. 

Com o disco Sleelwalker, ainda hoje um dos preferidos do grupo, a sonoridade dos primeiros meses de 1977 estava quase completa.


E o anúncio na Rolling Stone de 24 Fevereiro 1977



Para além destes subsiste a memória de um som estranho vindo de algures e que dava pelo nome de L, do músico Steve Hillage que cantava uma canção de Donovan, Hurdy Gurdy Man e ainda outra It´s all too much, dos Beatles.

Provavelmente também já se ouviria a música de Steve Miller e a sua Band, com o disco Fly like an Eagle, muito escutado nesse ano e ainda agora.

E os Eagles de Hotel California, saído no final do ano anterior? Talvez. A New kid in town era um dos temas que passava constantemente na Rádio Popular de Vigo. Tal como The Year of the Cat de Al Stewart, da mesma altura.
E ainda Dave Mason e um disco ao vivo que tinha Take it to the limit daqueles mesmos Eagles.

Tudo sons de há 40 anos por esta altura...

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This was Jethro Tull. Memórias 25 Mar 2017 9:36 AM (8 years ago)



 Lembro-me de começar a dar alguma atenção à música de Jethro Tull aí pelo ano de 1973 ou 74, altura em que o grupo publicou o lp War Child.
Não porque esse disco fosse especialmente preferido mas porque permitiu descobrir músicas anteriores, de discos passados e de que tinha ouvido alguns temas, como Life is a long song  ou Bourrée e provavelmente a versão curta de Thick as a brick.
Jethro Tull era assim, para mim e nessa altura, um grupo de culto com uma imagem que ultrapassava a de outros grupos mais pesados na música rock. Tal se devia às poucas fotos que tinha visto do grupo, todas com indivíduos de cabelos mais que hippies e roupas a condizer com a moda desse tempo.
O grupo era conhecido em Portugal e o programa Em Órbita, muito popular entre quem se interessava por este género de música na época, em finais de 1970 apresentava o tema With you there to help me, do LP Benefit,  como uma das 15 melhores canções desse ano ( em número 9, sendo a primeira Bridge over troubled water de Simon&Garfunkel e a última Nothing that i din´t know dos Procol Harum) .
Em Março de 1971 o grupo era capa da revista Mundo da Canção e em 1 de Outubro desse mesmo ano fazia a primeira página do jornal Disco, música & moda, com uma entrevista de Grover Lewis, da Rolling Stone, embora na época tal não viesse sequer mencionado porque a bem dizer o artigo era uma súmula do original, publicado em 22 de Julho desse ano na revista americana de São Francisco. Provavelmente para fugir ao pagamento de direitos uma vez que não aparece qualquer menção da origem, a não ser o nome do autor, nem se refere qualquer acordo de colaboração com a Rolling Stone, ao contrário do que acontecia com o Melody Maker, New Musical Express e Disc and music echo, ingleses.


O jornal Disco, música & moda, então no seu 17 número, quinzenal, era propriedade de Jorge Beckman, dirigido por A. de Carvalho e editado por Eduardo Teixeira e era na época e a par do Mundo da Canção, a referência para quem queria saber algo da música que passava em alguns programas de rádio e não lia as publicações originais, como a Rolling Stone, Crawdaddy, aqueles jornais e outras Rock&Folk.  
A súmula que aparece no jornal é tradução do original em estilo Reader´s Digeste, condensado e merece a pena uma comparação entre ambos…tanto mais que o autor Grover Lewis foi um dos expoentes da nova escrita americana que despontava em revistas como a Rolling Stone ou a Esquire.







E a súmula do Disco, música & moda de 1 de Outubro de 1971, com chamada na capa e sem identificação da origem:



Em finais de 1975 apareceu o disco Minstrel in the Gallery e o rádio passava então, em certos programas, os lp´s completos. Foi o caso e lembro-me de começar a apreciar esse disco ao mesmo tempo que ouvia outros, também passados no rádio, geralmente à noite em programas como Boa Noite em FM, Banda Sonora ou Espaço 3p ou mesmo o dois pontos de Jaime Fernandes.



Foi assim que os lps Stand Up. Living in the past, Thick as a brick ou Aqualung e mesmo A Passion Play, passaram a ser muito lá da minha casa sonora.
Ao ouvir A Passion Play edit#8 anotei "any date"...mas skating away ficou bem escrito e inscrito no ouvido.

Houve um, porém, que não me lembro de ter ouvido nessa altura: o primeiro. This Was, de 1968.  E no entanto é dos mais interessantes em termos sonoros. 
A primeira prensagem da Island é esta:


Em 1976 a descoberta dessa música dos Jethro Tull continuou e nesse ano foi publicado o disco Too old to rock n roll too young to die que foi o último que verdadeiramente apreciei do grupo e cujas músicas já tinha ouvido antes de ver o disco com capa publicada na Rock&Folk de Junho de 1976.


Muitos anos depois disso vieram os discos, todos originais, de primeira prensagem inglesa, de preferência. E ultimamente o que mais gosto de ouvir é Benefit e a canção Inside. O disco começa com With you there to help me, que foi a escolha nº 9 do Em Órbita no final do ano de 1970. La boucle est bouclée.


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Bob Dylan, Blonde on Blonde faz 50 anos 1 Jun 2016 11:03 AM (9 years ago)

O disco de Bob Dylan,  Blonde on Blonde faz agora 50 anos por estes dias. É um dos discos mais importantes da música popular e quando saiu, em finais de Maio de 1966, não tinha idade para ouvir tal música e perceber o significado.

Só duas décadas mais tarde vi a capa do disco de que entretanto ouvira falar e se tornara mítico por isso mesmo e do qual ouvira apenas  algumas canções, como Just like a woman, por essa altura uma das músicas que mais gostava.
Devo ter escutado pela primeira vez tal tema em 1974 quando saiu o disco ao vivo Before the Flood que imediatamente me seduziu e conquistou para a música de Bob Dylan que conhecia apenas episodicamente e talvez por causa do tema Knocking on heavens door, da banda sonora do filme Pat Garret & Billy the kid, de 1973.
Por essa altura também passou na RTP a preto e branco um filme de Bob Dylan dirigido por D.A. Pennebaker , eventualmente Don´t look back e que me impressionou.
As canções Like a Rolling Stone e It ain´t me babe tornaram-se míticas por causa das letras que conseguia ler na Mundo da Canção  e da música que terei ouvido ocasionalmente e me parecia quase recitada mas com sonoridade intensa que se repete em Blonde on Blonde no órgão de um improvável Mike Bloomfield. 

Durante esse tempo lembro-me de ter escutado partes da canção Sad Eyed Lady of the Lowlands, em emissões de rádio em que se falava da estranheza em ocupar toda uma faixa de um do discos ( a última).

A capa de tal disco mítico apareceu pela primeira vez, para mim, nas páginas da revista Rock & Folk, do mês de Março de 1976, a par das outras capas de discos anteriores. Foi essa a primeira vez que a vi, a preto e branco e suscitou-me curiosidade em conhecer o disco, bem como os demais, precisamente por causa de nessa altura já ter saído aquele Before the Flood e o grande disco de 1975 Blood on the tracks que definitivamente me tornou um fã incondicional de Bob Dylan.



O disco  só o ouvi integralmente dez anos depois, em 1986, na edição espanhola, aliás bem prensada, mas uma reedição em stereo do original, em mono.

Esta versão original só a ouvi há alguns anos em prensagem de origem e com uma sonoridade que carece de habituação porque as versões em stereo são aparentemente melhores.

Antes disso, porém, ouvi a versão em cd simples da Columbia-Legacy na série Mastersound Collector´s Edition ( em SBM, 20- bit digital transfer) de 1994 que me pareceu excelente e ainda a versão em sacd duplo saída em  2003 que também é excepcional.






Porém, prefiro as versões em vinil do disco que aliás são díspares e soam diferentes. A prensagem espanhola difere de uma prensagem jugoslava, também em stereo que comprei há alguns anos, com vantagem para esta última ( imagenms mais pequenas, sendo a de cima a espanhola).


A versão original, americana e com referência C2L41 XLP113761-2B, na parte morta da primeira face do disco um, é em mono e soa muito bem, sendo a que se aproxima do som original gravado em Nashville, há 50 anos, com músicos de estúdio como Charlie McCoy.


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Harvest, Neil Young. 15 May 2016 2:05 AM (9 years ago)

O disco Harvest de Neil Young saiu em Fevereiro de 1972 nos EUA e por cá deverá ter sido publicado meses mais tarde. Os singles Old Man e Heart of gold deverão tê-lo precedido, mas não me recordo de o ouvir a primeira vez, o que terá acontecido com certeza no rádio da época.
Porém, em Maio de 1972 a revista Mundo da Canção publicou as letras do disco.



Em 1977 o disco era um dos preferidos para ouvir as primeiras batidas de Out on the weekend, e tal sucedeu precisamente nesta altura, nos primeiros dias  de Maio desse ano, porque de tal me recordo bem.
O disco que em 1972 e por esses anos fora tinha sido apenas mais uma referência da música popular assumiu nessa altura um significado especial por razões que não são alheias à descoberta da sonoridade dos CSN&Y, particularmente do álbum ao vivo Four way Street , de 1971 e que por qualquer motivo voltou a suscitar atenção por causa das primeiras canções do lado dois, Right between the eyes e Cowgirl in the sand que então passariam no rádio.

Em apontamentos de 1977 há uma menção explícita a tal disco e lembro-me de ouvir essas duas músicas em conjunto com outras obras musicais do género, country rock, em discos de Stephen Stills ( Change Partners, do disco Stephen Stills 2, de 1971), Graham Nash ( Wild Tales, de 1973), Nitty Gritty Dirt Band ( Mr. Bojangles, particularmente e que foi durante muito tempo um modelo do som da guitarra acústica, logo no começo da canção) Tom Waits e o disco Closing Time, de 1973, etc. etc. no qual se incluem as músicas da época ( Lou Reed e Vicious Circle, Stevie Wonder e Songs in the key of life, Supertramp e Even in the quietest moments, Eugenio Finardi e Sugo, Pink Floyd e Animals, e mesmo os King Crimson, com Starless and bible black, então coligida no duplo LP A Young Persons´s guide do King Crimson e que durante anos foi um disco desejado.
Para além desses e nesse ano de 1977 havia ainda como audição obrigatória, Roy Harper e canções de uma colectânea Harper 1970-1975, George Harrison e 33&13, Van der Graaf Generator e World Record, com o tema grandioso Wondering, Jethro Tull e Living in the past, Thick as a brick, Minstrel in the gallery ou o seguinte, Too old to rock n´roll. E os Kinks de Sleeepwalker. 
  Ou o primeiro de Peter Gabriel. Ou ainda Frank Zappa e o então One size fits all que sendo de 1975 continuava a ouvir com atenção, na sequência dos anteriores, Overnite sensation e Apostrophe. Também os Eagles marcavam essa sonoridade porque em 1976 tinham publicado o Greatest Hits, um dos discos de música popular mais vendidos de sempre.


Numa classificação pessoal da época Roy Harper ganhava a todos, talvez por causa de canções de Bullinamingvase, precisamente desse ano de 1977 e do tema One of these days in England, mas também de outros temas mais antigos como o anterior HQ ou The same old rock, do álbum Stormcock de 1971 e que o rádio, dos programas de Jaime Fernandes e João David Nunes passavam com regularidade.

Portanto o tom dolente do início de Harvest de Neil Young insere-se neste contexto.

O disco propriamente dito comprei-o muito mais tarde, na década de noventa e aproveitando as promoções Nice Price ou similares da WEA alemã.

Durante alguns anos mais foi esse som que ouvi, do disco reeditado pela etiqueta alemã, subsidiária da Reprise americana e com a referência REP 44131 ( MS 2032) em prensagem Alsdorf.

O disco não tem sonoridade muito criticável, sendo mesmo aceitável, mas não se compara à edição original, americana.
Para tal concluir foi preciso ouvir o disco em prensagem inglesa da época, com a referência K54005 e depois, finalmente o original MS 2032 com a prensagem sterling LH ( Lee Hulko).

Foi esse exemplar que me deu a dimensão sonora exacta do que esperava ouvir nesse disco e a batida dos primeiros compassos de Out on a weekend se não me transporta ao tempo referido de 1972 a 1977 por causa da deficiência natural da audição via rádio em FM, pelo menos permite-me agora ouvir o que na altura não era possível e desfrutar das maravilhas sonoras de tal gravação.

Em 2002 tal disco foi alvo de uma rematrização em dvd-audio com várias opções, incluindo a reprodução multi-canal. O stereo em advanced resolution, porém, está gravado em 192kHz/24bit e naturalmente é muito superior à versão cd. Pode haver mesmo quem prefira tal versão, limpa de qualquer ruído espúrios dos discos de vinil e com equilíbrio tonal impressionante, mas demasiado asséptico e que no meu entender acaba por cansar um pouco em audição prolongada. Talvez esse efeito se esbata num audição em reprodutor de qualidade elevada ( da dCs, por exemplo) , mas em termos médios e comparativos, ouvindo-o nessa resolução digital a qualidade, sendo superior não supera a do vinil.
Existe ainda a versão em blu-ray, de algumas canções, inserida na caixa de dez discos, Neil Young Archives Vol. I de 2009 ( Harvest, Old man, Heart of gold, the needle and the damage done, Alabama, Are you ready for the country e com as demais canções desse disco apresentadas em versões inéditas ou ao vivo, reproduzindo por isso integralmente tal disco, no disco oito de tal colecção) . A sonoridade de tal versão é impressionante e conjugada com as imagens que se podem ver enquanto se escutam os temas, torna-se difícil a comparação e mais difícil estabelecer a preferência, tal a perfeição da obra assim apresentada.





A versão em vinil original, porém,  confere ao som a sua justeza e grandiosidade natural e perfeita.


Para se localizar a edição original com prensagem da sterling ( de Nova Iorque) é necessário observar a parte interior do vinil, junto ao rótulo e no fim da parte sonora.





Em baixo, na imagem e de acordo com o sentido dos ponteiros do relógio, em cima à esquerda o disco da WEA, depois uma edição EUA, Sterling LH, seguida de outra, em baixo da mesma série mas com ruído no disco. Estes dois exemplares têm a capa em cartão rugoso. Em baixo à esquerda a versão uk do disco, também em cartão embora menos rugoso que aquelas. Ao centro, o dvd-audio, em cartão simples e com reprodução do encarte com as letras do disco.



Em Abril de 2013 a revista Hi Fi News publicou um artigo acerca do disco mencionando as edições discográficas alternativas:



Imediatamente antes de Harvest, Neil Young publicou After the gold rush, outra obras-primas e no ano seguinte, saiu Times fades away que não desmerece as anteriores.Em versão original com prensagem americana merecem audição a par daquele Harvest:




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ELO e o Eldorado, 40 anos de encanto 3 Oct 2015 3:22 AM (10 years ago)

Em finais de 1974 surgiu nos rádios uma música então estranha, para mim. Numa toada de música de filme, com batida ritmada e voz recitada aparecia  uma sonoridade de orquestra sinfónica que mudava em segundos para uma cançoneta melodiosa interrompida logo por uma entrada de metais de marcha e que desenvolvia novamente um tema sinfónico até se misturar com a vocalização do primeiro tema, I can´t get ot out of my head.
Eldorado, dos Electric Light Orquestra, começava assim e nunca tinha ouvido nada semelhante. Nessa altura nem sequer tinha ouvido falar nesse grupo, quando já tinham publicado três discos antes desse. E com modo de composição semelhante, como é exemplo Roll over Beethoven, do disco ELO 2, de 1973.

A sonoridade de I can´t get it out of my head que abre o disco era a música que me ficou no ouvido durante alguns anos até perceber quem era o grupo e ouvir o disco por inteiro.
Durante os dez anos seguintes o grupo foi publicando álbuns com interesse auditivo, destacando-se em 1977 Out of the blue,  um duplo que contém vários títulos que merecem audição. Entre ambos publicaram-se Face the Music, em 1975 ( JET 546) e A New World Record, em 1976 (UAG 30017).
A seguir a Out of the blue publicaram-se, em 1979 Discovery ( JET LX 500) e Time, em 1981 ( JET 236 37371). O seguinte, Secret Messages, de 1983 ( JET 527 38490) é pouco mais que uma curiosidade.

Porém, em finais de 1974 o Eldorado era a música que me despertava curiosidade e durante cerca de dez anos assim foi..

Esse disco de finais de 1974, ouvido já em 1975,  só o arranjei nos anos oitenta, numa loja de Braga da antiga Sonolar, uma loja de electrodoméstivos que também vendia discos, em plena avenida da Liberdade, e que ainda tinha essa já raridade, em edição nacional da Rádio Triunfo. A capa é uma das mais memoráveis da música popular, com uma imagem do filme O Feiticeiro de Oz.
Já nos anos noventa, em 1993, comprei uma versão em cd desse disco, da DCC Compact Classics, ( discos manufacturados no Japão e comercializados nos EUA) rematrizado para digital por Steve Hoffman, uma edição especial com banho dourado supostamente garantia de melhor qualidade sonora.Segundo indicações na contracapa, as misturas originais, "masters" foram utilizadas na feitura do cd, sem equalização suplementar.
Em data mais recente, 2001, saiu uma versão em cd da etiqueta Legacy/Sony/Epic com dois temas suplementares e inéditos ( Eldorado Instrumental Medley e Dark City) e com qualidade sonora semelhante.
Apesar da versão nacional do lp ser de qualidade razoável, essas versões em cd apresentam uma dinâmica diferente e mais brilhante, com maior abertura das frequências altas e uma mistura sonora diferente que lhe confere maior clareza instrumental. Na altura pareciam-me superiores mas com o tempo revelam-se mais fatigantes para a audição.

Quanto ao lp em vinil, a edição original inglesa é da etiqueta Warner Brothers com a referência K56090 e nos EUA a United Artists, UA LA339 I  G-2 PiNo, inscrita no próprio vinil (USA) , na parte morta do mesmo. 
Para além dessas versões originais apareceram na Inglaterra em reedição de 1977 as referências Jet UAG 30092 e JETLP 203 e mais uma em 1986 com a referência JETLP 32397, inglesa também..

Assim, em data mais recente procurei obter a versão original de tal disco o que se revelou difícil porque desde logo se tornou  difícil descobrir qual seria essa edição: a versão americana ou a inglesa? E entre estas, qual a de melhor qualidade sonora e prensagem em vinil?
Socorrendo-me de ajuda em foruns da Internet ( precisamente o de Steve Hoffman) concluí que a versão original inglesa seria a preferível e quando a consegui encontrar ouvi todas as versões, com atenção a pormenores.
Tendo comparado as cinco versões em lp e ainda as duas versões em cd, a conclusão é só uma: a versão original inglesa, com referência K 56090 é sensivelmente a que soa melhor.

A contra-capa da edição portuguesa da Rádio Triunfo, eventualmente a seguir à reedição inglesa de 1977, com etiqueta da JET Records e com referência na parte morta do disco:  JET-LP -203 A-1 ALLEN 001040 


A versão original do disco, da WB, K56090, prensagem inglesa:





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Há 40 anos, a descoberta da música progressiva popular. 25 Jul 2015 10:51 AM (10 years ago)

Quando a chamada música progressiva apareceu, nos finais dos anos sessenta nem sabia identificar o género. No entanto conhecia Whiter shade of pale dos Procol Harum, tal como conhecia os singles dos Creedence Clearwater Revival ou Daydream dos Wallace Collection. Pink Floyd, de The Piper at the gates of dawn? Nunca ouvira.

Esse subgénero da música popular só começou a interessar-me aí em finais de 1974 e muito por culpa da revista Rock&Folk e de certos discos que então passavam  em alguns programas de rádio, particularmente à noite no RCP.

Assim só ouvi um dos expoentes do género, In the court of the crimson dos King Crimson, muito mais tarde e integralmente apenas décadas depois. Por um acaso de circunstâncias acabei mesmo por arranjar a versão original desse disco editado em 1969 pela Island, o que tem o rótulo cor-de-rosa e referência ILPS 9111 e cujas diferenças na qualidade de som não têm comparação com outras versões. Sublime.




Antes de ouvir devidamente os King Crimson outras sonoridades tinham chamado à atenção, nesta área. Os Emmerson Lake and Palmer, cujas sonoridades pop de Lucky man não faziam esquecer os sons de 1973 e do disco Brain Salad Surgery.

Evidentemente que a sonoridade dos Pink Floyd desse ano foi o disco mais célebre do grupo, Dark side of the moon, um portento sonoro, cuja versão mais próxima do original que tenho é uma prensagem SHVL 804 de terceira ou quarta geração mas ainda assim muito aceitável.


Antes desse disco lembro-me de aparecer nos escaparates de uma discoteca local o disco Atom Heart Mother, de 1970, apresentado como um modelo sonoro da música de "qualidade", progressiva. O disco que tem uma vaquinha na capa e que por isso fugia, pelo insólito, aos cânones da pop, como alguns outros.

Tenho ainda umas reminiscências de ouvir Jethro Tull e particularmente o tema Bourrée, tocado em flauta, mas não me lembro de ouvir os Yes, nessa altura.
E claro os Moody Blues que em 1972 lançaram Seventh Sojourn que se tornou um dos discos desse ano, muito ouvido aliás, tal como os Procol Harum. 
Há cerca de 40 anos um dos discos que gostava mais de ouvir era de Rick Wakeman, Myths and legends of king Arthur e que o programa Página Um da R.R. divulgou nos primeiros meses do ano de 1975.
Assim foi apenas em 1974-75, há quarenta anos que verdadeiramente descobri a tal música progressiva, no seu esplendor de grupos mais representativos:

Para além daqueles já citados, Genesis, Soft Machine, Kevin Ayers, Camel, Gentle Giant, Renaissance,Strawbs, Traffic, Robert Wyatt e o maior de todos para mim, nessa época, Van der Graaf Generator. 

Em Maio de 1975 a Rock & Folk publicou algumas páginas que me pareceram então o supra-sumo do que se poderia escrever sobre essa música e a apresentação gráfica inultrapassável também.



Com esta informação visual estava habilitado a continuar os estudos sonoros sobre este tipo de música que me conquistou logo o gosto pela audição cuidada.

E inspiração para o desenho.




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A memória dos sons de há 40 anos 8 Jul 2015 9:14 AM (10 years ago)

No Verão de 1975 os sons que gostava de ouvir na música popular ainda são alguns dos que hoje me encantam.

O rádio era o veículo habitual para ouvir tais sonoridades,  geralmente à noitinha ou mesmo noite dentro, em programas como Em Órbita2, 2 Pontos, Espaço 3p, Boa noite em FM e outros.

Até Julho desse ano o disco maior foi Physical Grafitti dos Led Zeppelin, passado nos meses anteriores no programa Página Um da Rádio Renascença.
Blood on the tracks de Bob Dylan também.  E Rick Wakeman com The myths and legends of King Arthur, juntamente com Irish Tour´74 de Rory Gallagher.
Country Life dos Roxy Music, Crime of the Century dos Supertramp, Propaganda dos Sparks e os Barclay James Harvest, com Everyone is everybody else. 
Também contava para tal top a canção Slowth dos Fairport Convention ao vivo.

Em Junho o hit parade do jornal inglês New Musical Express era este, onde se evidencia o disco de Elton John, Captain Fantastic and the Brown dirt cowboy que estava no topo de vendas dos dois lados do Atlântico e ainda Venus and Mars dos Wings e Autobhan dos Kraftwerk.
Estes discos passavam nesses programas nocturnos do rádio então nacionalizado, no programa 4.
Nos singles,. Love will keep us together, de Captain and Tenille ouvia-se muitas vezes assim como I´m not in love dos 10cc.


A música portuguesa também passava nesses programas, particularmente a de Sérgio Godinho, com o disco À Queima-Roupa ou José Afonso e o Coro dos Tribunais.

Estas músicas tinham um acompanhamento regular nas revistas de música, como a Rock & Folk ou os jornais Melody Maker e New Musical Express, aqui numa crítica de 12 de Julho desse anos, ao disco de Frank Zappa One Size fits all que ouvia e de cada vez me interessava mais ouvir. Como hoje.



Porém, o disco que provavelmente terei ouvido mais nessa época não foi no rádio mas num gira-discos rudimentar de um amigo meu, o Zé Gomes que quando chegava lá a casa tinha sempre a rodar o Abraxas dos Santana. É um disco fantástico, ainda hoje, com uma capa que na versão original americana é um portento de ilustração.


Contudo, a beleza máxima, feminina, que me era dado ver em papel, nessa altura, era esta: uma imagem de Nico publicada na Rock & Folk de Fevereiro desse ano de 1975.


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Outono de 1976 9 Oct 2014 11:14 AM (11 years ago)

Este desenho de finais de Setembro de 1976 marca o tempo que então passava, de suave melancolia perfumada pelo fumo do combóio de locomotiva movida a carvão e que passava perto da casa onde vivia. Ainda lhe sinto o cheiro...


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Decade de Neil Young em 1977-78 6 Oct 2014 10:48 AM (11 years ago)

Em finais de 1977 apareceu este disco, triplo e de recolha de canções de Neil Young até à época. Nessa altura, Neil Young era para mim um dos maiores artistas da música popular e tinha colocado o disco Zuma, saído em 1976 no topo da minha classificação pessoal de álbuns desse ano. A seguir, vinham logo os arautos do prog, Van der Graaf Generator ( Still Life que escutei vezes sem conta, à noite, no rádio FM), Gentle Giant ( Interview), King Crimson ( o "greatest hits" Young Person´s guide to the music of King Crimson, com destaque para Starless e Epitaph) e Led Zeppelin ( Presence) a par de Genesis ( A trick of the tail), Nils Lofgren ( Cry Tough), Jethro Tull ( Too old to rock n roll, tto young to die) etc e neste Stanley Clark e Journey to love. E em português, a Banda do Casaco e Coisas do Arco da Velha.
Era principalmente à noite nos programas em FM do rádio Comercial que ouvia estas preciosidades discográficas que ainda hoje são a música popular que gosto de ouvir. Portanto, Neil Young era especial e nos anos seguintes, até 1979 ( com Rust Never Sleeps) os discos foram sempre os que mais gostava de ouvir. Por isso esta compilação era importante, porque não conhecia os discos anteriores a Harvest, de 1972.
Quanto ao triplo LP este é o original americano ( na prensagem da Capitol. Há uma outra da Monarch Records, contemporânea).




Em Janeiro de 1978 a Rock&Folk fez a recensão e li o artigo sublinhando as canções que faziam parte das seis faixas dos três discos. Muitas delas nem as conhecia e só anos mais tarde as ouvi.


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Mais bd de 1974: Blueberry de GIR 28 Aug 2014 10:30 AM (11 years ago)

No início do Verão de 1974 quando descobri na Bertrand as revistas Pilote encadernadas em diversos volumes comecei por comprar um dos que mais me chamava a atenção e que era o que trazia as aventuras de Blueberry, L´Outlaw, no Volume 66, em Agosto de 1974, depois de ter comprado em Lisboa o volume 65, em Junho desse ano.
As duas primeiras páginas da aventura de Blueberry eram assim.



O traço típico de GIR tinha evoluído no desenho, para um virtuosismo impressionante, desde os álbuns O Homem do punho de aço e A pista dos Sioux, publicados no Tintin português no Verão de 1973 e 1974 respectivamente, embora fossem publicados originalmente em 1967, na Pilote francesa.
Seguir-se-iam mais dois ou três álbuns até chegar a  Chihuahua Pearl, de 1970, exemplo daquela evolução e que se prolongou por dois dos melhores da série, também de 1971 e 1972: O Homem que valia $500.000 e Balada para um caixão que só vi posteriormente, em 1974 nos recueils que fui comprando.
Assim, quando saiu L´Outlaw, publicado no Pilote em 5 de Abril de 1973 e no recueil nº 66, li-o pela primeira vez em Agosto de 1974, altura em que o comprei.
O álbum Chihuahua Pearl comprei-o também em 1974 e é um dos melhores da série.



Por outro lado, com L´Outlaw terminaram  as aventuras de Blueberry de GIR, publicadas na Pilote, apesar de terem continuado, com publicação noutros lados. 
Por exemplo, Angel Face, de 1975 , foi publicado originalmente no Tintin francês ( Nouveau Tintin N1-N9).
A imagem que segue é desse Nouveau Tintin, de 11 de Novembro de 1975, altura em que Gir já tinha o heterónomo Moebius e desenhava para a Métal Hurlant.


O próximo Blueberry, Nez Cassé, saiu na Métal Hurlant durante o ano de 1979 e também na revista Super As que publicou o seguinte La longue Marche, em 1980.
A seguir na Série, La tribu fantôme,  publicou-se em 1981 na revista L´Écho des Savannes.
La Dernière Carte, de 1983 publicou-se na Spirou ( 2380-2383).
Le bout de la piste, de 1986 apareceu em álbum, como os seguintes.



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O Verão de 1974 e a banda desenhada-continuação 31 Jul 2014 9:14 AM (11 years ago)

No Verão de 1974 apareceu ainda a revista Pilote em formato mensal, cuja história já aqui foi contada.
Ficam agora as fotos melhores das capas dos três primeiros números que foram uma descoberta de novos autores, sempre alternativos ao autor -Gir-  que procurava encontrar em cada número e ainda não sabia que já andava a preparar uma novidade que surgiria no ano seguinte.
Antes disso, depois de ter lido as historietas do "recueil nº 65" aparece na mesma Bertrand este número, com um preço bem caro para a época: 45$00 quando o anterior número da série precedente custara 27$50. Mesmo assim, o desenho da capa era irresistível e já se via numa das pedras da calçada uma figura de Moebius, precisamente a que está sob o pincel do artista fotografado.


No nº2 de Julho de 1974 aparecia esta dupla página de crítica desenhada a livros de ficção científica inconfundível nos traços de Gir/Moebius. 


No mesmo número uma historieta a preto e branco mostrava os desenhos impecáveis de Luís Garcia, em ambiente político de esquerda sul-americana.




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O Verão de 1974 e a banda desenhada 27 Jul 2014 4:26 AM (11 years ago)

No início do Verão de 1974, no final  de Junho, fui a Lisboa, de combóio com um amigo que lá tinha o pai, na tropa e a namorada, em Almada.

No dia 21 de Junho, à noite, fui ao cinema, no Éden.


Um dos locais que visitei em Lisboa foi a livraria Bertrand, no Chiado e que tinha quase o mesmo aspecto que hoje, com as várias galerias de livros e expositores muito parecidos aos que hoje existem.
Na galeria do fundo, ficava a secção de Banda Desenhada que em 1974 era de autêntico boom editorial, com álbuns e revistas estrangeiras, particularmente de expressão francesa.

Nessa altura, a revista Pilote que se publicava em França e que tinha visto por cá, à venda, no início do ano, tendo comprado alguns números que a mesma Bertrand distribuia, não se vendia porque estava prestes a acabar na sua edição semanal, o que eu ainda não sabia e que nos meses seguintes foi uma autêntica surpresa, marcante nesse ano de 1974 ao ver no escaparate da mesma Livraria a primeira edição mensal da revista.   

Na Bertrand de  Lisboa, porém, tal como noutras localidades como vim depois a descobrir,  havia alguns álbuns de recolha de números anteriores, de 1973 e até antes, que me despertaram a atenção, tendo escolhido este ( que custou 115$50 em 25 de Junho de 1974)  como primeira compra por causa das histórias que trazia e nunca vira. Duas delas foram determinantes. 





A historieta de Giraud, já em estilo Moebius, chamada La déviation


E a historieta desenhada por Tardi, Adieu Brindavoine.  Depois disto nada seria como dantes, para mim,  na banda desenhada, porque surgiu um período de grande criatividade, espelhado em revistas que viriam a surgir , para grande deleite e proveito intelectual.
Uma autêntica "idade de ouro" da banda desenhada de expressão francesa que continuava o anterior período de grande expansão das historietas desenhadas para a juventude, com os tintins, astérix e lucky luke transformados em heróis de outros níveis e mundos.






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O Natal de há 40 anos com o Tintin 24 Dec 2013 3:01 AM (11 years ago)

Em 1973 neste dia de Consoada provavelmente diverti-me com as historietas do Tintin em edição nacional e belga, a original.

Como o dia 24 foi numa Segunda-Feira, o último número da revista tinha saído no dia 22. E tinha esta capa

No interior as historietas mais interessantes eram as de Blueberry cujo episódio O Homem do punho de aço, chegava ao fim. Assim:

No número seguinte, saído em 29 de Dezembro, aparecia uma historieta de Bruno Brazil, cujas primeiras imagens se fixaram como fantásticas, por causa da ilustração do carro- um Porsche 911 Targa , cujo modelo considero o mais bem desenhado de todos os que conheço e cuja cor era típica então, nesse modelo.




A imagem do carro, em modelo posterior ( 911 S Targa coupé) já tinha aparecido na revista alemã Auto Motor und Sport ( no número 21/73, o que deixa perceber que seria de Maio desse ano). Não obstante, a historita La nuit des chacals tinha sido publicada originalmente entre 7 de Outubro de 1971 e 24 de Fevereiro de 1972, no Tintin original. Portanto o desenhador, William Vance, fantástico, tinha-o desenhado com base em modelo anterior a este.Provavelmente este modelo, de 1971:




A revista AutoMotor und Sport era uma das que folheávamos assiduamente para vermos os modelos de automóveis saídos, neste caso na Alemanha. O carro custava então cerca de 34 mil marcos, sensivelmento o mesmo preço do Alfa Romeo Montreal.
A imagem da revista ficou como recordação porque era um modelo excpecional, de design e classe, tanto a revista como o automóvel.



Ao mesmo tempo lia a edição original da revista, belga e cujo número de Natal, como costumava chegar um pouco mais atrasada poderia ter sido este:

Nessa altura o Tintin belga andava já um pouco fraco e o interesse nas historietas tinha diminuído. No número anterior, de 4 de Dezembro acabara a historieta de Comanche, Le Ciel est rouge sur Laramie, com nove páginas mal impressas e com as cores um pouco esborratadas. Ainda assim era o que me fazia então comprar a revista que continuei até ao número 45 de 5 de Novembro do ano seguinte.



O álbum cartonado que se publicou em França ( Dargaud) em Janeiro de 1975 tem uma impressão ligeiramente melhor na medida em que o papel utilizado é o de "jornal", enquanto que o da revista é "couché", brilhante, lustroso e quando se comprava ainda cheirava à tinta das rotativas...


:

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Outra vez a história da Rolling Stone 22 Nov 2013 2:22 PM (11 years ago)

Na Primavera de 1975 a revista Rolling Stone estava à venda na livraria Bertrand. Nessa altura já comprava a Rock & Folk, desde Outubro do ano anterior e lá via as referências à revista, numa secção  ( Boogie Woogie) dedicada à recensão de textos publicados noutros jornais e revistas, geralmente ingleses ( Melody Maker e New Musical Express, Sounds) e americanos ( Creem, Crawdaddy e Rolling Stone) . Foi aí que vi e li pela primeira vez a referência a tais revistas e jornais de música e por isso de vez em quando terei reparado na Rolling Stone durante os primeiros meses de 1975. Não muito porque as capas desses primeiros meses de 1975 não mostravam grande interesse para mim, na época. Suzy Quatro, Greg Allman, Loggins& Messina, Led Zeppelin ( esse, sim, com interesse mas uma capa com foto de um concerto), Linda Rondstadt que nem conhecia bem na altura e Roger Daltrey dos The Who. Nada de especialmente apelativo para a época e os gostos musicais da altura. Physical Grafitti, o disco dos Zeppelin,  começou a passar na Página Um no início de Abril de 1975 ( 8 de Abril, eventualmente devido à greve na Rádio Renascença que durava desde meados de Fevereiro e só retomou as emissões em 5 de Abril, para grande desespero meu que todos os dias sintonizava a estação ás 7 e meia da noite para tentar ouvir o programa e só ouvia o ruído típico do rádio dessintonizado...). Porém, relativamente ao disco já lera a recensão magistral de Nick Kent na Rock & Folk de Fevereiro de 1975, copiada do New Musical Express, cujo número também comprei na altura. Isso bastava-me e a Rolling Stone ainda não atingira o estatuto mítico de revista de culto, para mim, por causa do grafismo, das publicidades, dos artigos, etc etc.
A revista em Outubro desse ano, custava então 37$50, quinzenalmente, o que somando aos 50$00 mensais da Rock & Folk ( começara em 45$00 e já aumentara)  dava uma importância mensal substancial para um estudante que ainda por cima fumava e o preço do maço aumentava de vez em quando por mor da inflação galopante.Nessa altura iria, sei lá, pelos 10$00, cada um. Em 1979 chegaria aos 20$00.
Portanto, o número saído com a data de 24 de Abril de 1975 e aparecido por cá cerca de mês e meio depois, suscitou-me a atenção por dois motivos: na capa trazia um actor, Peter Falk, personagem da série de televisão Columbo que tinha passado em anos anteriores na tv portuguesa e cujos episódios não perdia. E por isso folheei, do que me lembro de ter feito e com a curiosidade em apreciar a revista.
Para além da reportagem sobre Columbo/Peter Falk chamou-me a atenção um outro assunto: a investigação do assassinato de Kennedy , então retomada por causa da ausência de explicações cabais da anterior comissão de inquériro ( Warren) a pormenores que ainda não estavam explicados.
Não sei se já tinha ouvido falar no "filme Zapruder" mas lembro-me de ler algumas passagens desse número da revista e observado as fotos e fotogramas do filme. Ainda assim pousei a revista no escaparate e deixei-a ficar, provavelmente porque o orçamento para esse mês estaria esgotado. Foi nessa mesma altura que apareceram alguns volumes de recolha da Pilote e a banda desenhada da Métal Hurlant suscitava-me maior atenção, embora a revista nem aparecesse por cá.

A efeméride que hoje se comemora dos 50 anos da morte de Kennedy trouxe-me estas recordações porque o assunto Kennedy foi sempre interessante, até agora que se conclui praticamente pela ausência de conspiração na origem da morte do mesmo.
Quanto à Rolling Stone foi apenas uma questão de alguns meses até ficar preso aos textos e fotos da revista sobre assuntos musicais e não só. Em Outubro desse ano passei a frequentar a cidade de Coimbra para onde fui estudar Direito e foi lá que comprei o primeiro número da revista que durante esse ano passei a comprar, como verdadeira obsessão. A história já foi contada aqui.
E episódio mais caricato prende-se com procura aturada que fiz, em Setembro de 1975, em todas as livrarias e quiosques de Lisboa, susceptíveis de a terem à venda, ficando com a frustração de a não encontrar em lado nenhum. Acabei por encontrar um número avulso, amarrotado e apenas com a capa e contra-capa num depósito de lixo num parque de campismo, por trás do estádio universitário de Lisboa, onde ficara então, alguns dias, numa época em que tal parque era usado pelos turistas que vinham ver o PREC e pelos  retornados que vinham das províncias ultramarinas, prestes a passarem a independentes.
A capa é de antologia e uma das melhores da revista, com uma foto de Mick Jagger da autoria de Annie Leibovitz, a fotógrada que fez muitas reportagens memoráveis para a revista ao longo dos meses e alguns anos que se seguiram.


Esse número da Rolling Stone só muitos anos mais tarde dei conta de que era a edição inglesa da revista porque a imagem da contracapa tem um anúncio publicitário a um álbum dos Manfred Mann ( Nightingales &  Bombers, saído esse ano) e a edição original americana, tem outro anúncio diversos, a uma marca de Tequila- Sauza com uma imagem de uma modelo loira a segurar a garrafa branca.
 Ao folhear virtualmente a edição americana em cd, dei ainda conta que não seria essa apenas a diferença- a edição inglesa tem menos publicidade e a preto e branco e o grafismo apesar de idêntico parece um pouco diferente, inferior porque igualmente a preto e branco. Por exemplo a ilustração da secção de recensão de discos, com uma foto do disco de Dylan,  Basement Tapes, a preto e branco enquanto na americana aparece a cores sépia, próprias da foto e o lettering "Records", a cor ocre. Por isso comprei mais tarde esse número mítico da edição inglesa. Tal como acontece frequentemente, o mito desfez-se no minuto seguinte em que folheei a revista de que tinha visto apenas a capa e contra-capa. Uma edição a preto e branco e inferior à original americana...

Ainda assim, com o tempo conseguir recuperar o número com a capa consagrada a Columbo que é um número mítico e que por isso reproduzo aqui, com parte do artigo sobre Kennedy.
Ainda hoje, ao folhear o papel com cheiro a velho, sinto essa sensação de então ao ver a revista no escaparate, num fenómeno que nunca mais se repetiu porque os mitos são assim mesmo: estão condenados a esfumarem-se com o tempo. Permanece no entanto como uma sensação tão agradável como experimentar uma novidade rara e propiciadora de descobertas intelectuais e artísticas.


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Kevin Ayers 29 Aug 2013 10:54 AM (12 years ago)

 Kevin Ayers morreu em Fevereiro deste ano, aos 68 anos.
Os primeiros discos do músico foram os que a imagem mostra, recolhidos no caso num album duplo posterior, de meados dos setenta ( 1975, mas esta edição que guardei, de prensagem espanhola, será porventura de 1976) )  e que me deram a conhecer a integralidade dessas duas obras-primas, já nos oitenta, em disco.
Esses primeiros discos passavam no rádio e programas da autoria de Jaime Fernandes e outros, nos idos de 1974 e eram imprescindíveis para o meu panorama sonoro e musical. May i, Lady Rachel, Girl on a swing, all this crazy gift of time, etc. etc. porque é difícil escolher uma canção de um lote impressionante de muitas outras de qualidade musical superior.
O disco que me conquistou depois a audição repetida ao longo dos anos é de 1978: Rainbow takeaway, com todas mas mesmos todas as composições a merecerem audição, mas com destaque para Waltz for you.
Antes desse tinha aparecido Whatevershebringswesing, disco que não possuo em lp e que foi publicado em 1972.
Não obstante, o primeiro disco que comprei de Kevin Ayers foi That´s what you get babe, de 1980, aliás um dos primeiros discos que comprei, no início dos anos oitenta.

Se durante muito tempo os dois primeiros constituiam a referência máxima do artista, por os ter ouvido no rádio, depois de conhecer os demais, fui aprimorando o gosto pela música de Kevin Ayers até entender todos os discos como merecedores da melhor audição.
Depois daquele de 1980 comprei o disco Bananamour, de 1973 em prensagem inglesa original, ainda sem conhecer os demais originais e à procura daquela composição Waltz for you que afinal estava noutro disco...
Em 1975 o conhecimento escrito sobre Kevin Ayers apareceu pela Rock & Folk que no número 99 de Abril de 1975 publicou um pequeno artigo sobre o músico.

E em Setembro de 1976 mais um pequeno artigo com uma imagem a cores que me ficou na memória, também pela imagem de Tardi que nessa altura despertava também a atenção pelos desenhos que fazia na Pilote.


Em Abril de 1975 comprei o "recueil" da revista Pilote nº 70 que abrangia dez números do primeiro trimestre de 1974. No nº 742, de 24 de Janeiro de 1974 aparecia esta imagem da capa interior de Bananamour, juntamente com discos dos Soft Machine. Nessa altura, a revista trazia em todos os números meia dúzia de páginas sobre actualidades culturais, com pequenas ilustrações e fotos e um arranjo gráfico que me encantava e continua a ter esse efeito porque nunca mais vi melhor em grafismo de revista.



E os discos...
Os três primeiros em cd, ao lado da colectânea e do quarto.

Os seguintes, quinto e sexto
Sétimo e oitavo

Mais outra colectânea de inéditos e singles, saída em 1976 e o disco de 1980.


Há outros discos de Kevin Ayers, saídos depois destes e que tenho em cd, incluindo o último, The Unfairground, saído em 2007. Mas estes são os mais importantes.

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Frank Zappa- as primeiras composições, strictly genteel 23 Jun 2013 10:39 AM (12 years ago)

Para além de The Adventures of Greggery Peccary, ouvido em repetição e provavelmente o mais ouvido de sempre, tema conhecido de Studio Tan, apareciam em Läther outros temas que viram o vinil anteriormente, particularmente no disco com gravações ao vivo,  Zappa in New York, lançado em 1979.
Uma delas suscitou atenção - Titties ´n beer. Por isso o primeiro lp que tentei encontrar depois de voltar a ouvir Läther, foi Zappa in New York, na prensagem original americana, da Discreet. Descobri então que o alinhamento dos temas nesse duplo álbum diferia da versão original, existente e rara que incluía pelo menos dois ou três temas que não aparecem depois na segunda prensagem dos lp´s: Punky´s Whips, I´m the Slime e Pound for a brown, para além de misturas diferentes das canções.  A versão original, final, acabou por sair com a reedição do cd em 2012, pela Zappa Records.
A disparidade de versões açulou a curiosidade em procurar outras versões de temas antigos repetidos em discos posteriores, sob o lema da famosa "continuidade conceptual".

Em Läther aparecem alguns temas que foram repetidos noutros discos, como por exemplo For the young Sophisticated, originalmente aparecido em Tinsel Town Rebellion, lp que procurei a seguir, para comparar e em boa hora porque o disco trazia outras surpresas como os temas The Blue Light que Zappa tinha dito em entrevistas ser um dos mais difíceis de executar, ou Brown shoes don´t make it que aparece originalmente no disco Absolutely Free, de 1967 de que tinha um cd mas não o lp que arranjei posteriormente e que vale bem a comparação.
Também o tema Big Leg Ema aparece em Zappa in New York e originalmente aparecera em Absolutely free, mas apenas na versão em cd, de 1995, da Rykodisc. E aparecera pela primeira vez num lp fora do catálogo "normal" do músico porque apenas editado em Inglaterra em 1975 num disco em mono dos Mothers of Invention conhecido como "transparency" por causa do diapositivo da capa. Porém, a versão de Läther é diferente da versão de Zappa in New York.
Ora foi esta diversidade de versões do mesmo tema que fez com que  me interessasse na comparação.
 E outra composição que aparece em Läther e é do disco Orchestral Favourites, de 1979,  permitiu essa comparação aprimorada- Pedro´s Dowry que em Läther tem a mistura stereo em reverso e aparece igualmente num outro disco que ainda não ouvi- London Symphony Orchestra I.
Outro tema que suscita a comparação é Duke of Orchestral Prunes cuja composição aparece originariamente no lp Absolutely Free em três variações e com o título abreviado de Duke of prunes, uma das melhores composições desse disco, um dos melhores também, de Zappa. Aparece igualmente em Orchestral Favourites e no cd Strictly Genteel, saído em 1997 e que então comprei e depois fiquei pasmado com a composição com o mesmo nome.

Strictly Genteel foi a primeira composição de Zappa, orchestral e sinfónica a obrigar-me a ouvir as demais versões porque há várias.

A primeira versão, original aparece no lp 200 Motels, de 1971 e que comprei em França há uns anos. Não tinha reparado no tema porque o disco é de difícil audição para quem não goste de toda a música de Zappa e na altura era esse o meu caso. Mas já não agora porque esse tema é muito interessante nessa versão e a que aparece a seguir é no lp Orchestral Favourites, de muito boa qualidade acústica, melhor que no 200 Motels. Depois aparece igualmente uma magnífica versão ao vivo, no cd You can´t do that onstage anymore, vol. VI publicado pela Zappa Records e derivado de gravação ao vivo em Nova York no dia 31 de Outubro de 1981, o célebre concerto de Halloween que está registado em video e pode ver-se no  The Dub room special.
Também aparece numa magnífica versão no lp Zappa London Symphony Orchestra II, gravada em 1983 e no cd Make a jazz noise here, em versão idêntica à do cd Strictly Genteel.
Portanto todas essas versões se ouvem com agrado, tendo-as por isso gravado em sequência porque é uma das melhores composições de Frank Zappa.

Outra que merece igual atenção e tratamento é Dog Breath (variations) que aparece originalmente em Uncle Meat, de 1969 e depois é aproveitada em Just Another Band from LA de 1972, no cd YCDTOSA nº 2, ao vivo no célebre concerto de Helsínquia de 1974 e no último disco de Zappa em vida, o cd The Yellow shark, de 1993 e gravado em 1992. Tal versão aparece igualmente no video The Dub room special.

Por causa dessas comparações acabei por arranjar os primeiros lp´s , com excepção do primeiro que não suscita tanta atenção como os seguintes, e com particular ênfase para o disco We´re only in it for the money que se escuta como uma sequência de pequenas composições geniais, capazes de fazerem do lp um dos melhores do músico.
Por outro lado, as edições originais da Verve ou da Bizarre/Reprise ( a partir de Uncle Meat, de 1969) e depois da Discreet, a partir de Overnite Sensation, são as que melhor soam, para além de terem capas quase todas duplas ( com excepção de Weasels ripped my flesh, Waka Jawaka e Apostrophe (´) )e dignas de apreciação.

Strictly Genteel, a composição que originou esta revisitação à música de Frank Zappa e à descoberta dos primeiros discos do músico é um tema original que se assemelha de algum modo a Sofa, de One size fits all. Começa pela introdução falada de um dos actores do filme ( e que no video se vê a pronunciar essa introdução "at the end of the movie"), o actor Theodore Bikel, suposto mefistófeles e que enquanto vai falando se ouve em fundo  os primeiros compassos sinfónicos de uma música reminiscente em andamento quase adaggio, com as quatro notas fundamentais, em crescendo, um do mi sol...si, ou variação noutro tom, compassadas e em marcha solene, adequado ao finale do "movie".
A peça está documentada no filme 200 Motels e apesar da fidelidade musical não ser das mais elevadas ( gravação de 1971, mas ainda assim inferior ao resultado técnico e sonoro de outros discos anteriores, como Hot Rats), a música é majestosa em função da intervenção orquestral, no caso a Royal Philarmonic Orchestra dirigida por Elgar Howarth e com gravação datada de Janeiro e Fevereiro de 1971.
O tema foi posteriormente repescado em actuações ao vivo sendo de salientar as dos anos oitenta, particularmente a de 1981, no concerto de Haloween e não desmerecendo nada do original, a versão gravada pela banda Zappa plays Zappa, orientada pelo filho do compositor, Dweezil, em anos recentes e com concerto documentado em dvd em que se reunem antigos colaboradores de Frank Zappa como Napoleon Murphy Brock e Terry Bozzio, o baterista que canta Punky´s Whips no disco Zappa in New York, na versão original de 1977, mais tarde censurada e que só aparece agora em cd ou em lp´s raros que se vendem na ebay a preços proibitivos.



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Frank Zappa- os primeiros discos e Läther 22 Jun 2013 11:21 AM (12 years ago)

Frank Zappa terá escrito cerca de 600 canções, ao longo da sua vida e segundo declarou na sua biografia The Real Frank Zappa, escrita com a colaboração de Peter Occhiogrosso, em 1990.

Dessas centenas de canções terei ouvido meia dúzia, reconhecíveis,  até meados dos anos setenta e quase todas de dois lp´s, Overnite Sensation e Apostrophe, seguido depois de One size fits all, de 1975. Com a saída de Zoot Allures em 1976 e Studio Tan em finais de 1978, o leque alargou-se um pouco mais, eventualmente para o dobro e ainda assim os discos seguintes,, Sheik Yerbouti e Joe´s garage, de 1979 acrescentaram pouco mais.

Foi apenas na primeira metade dos anos noventa, com o lançamento dos cd´s pela Rykodisc, rematrizados pelo próprio Zappa e cujas matrizes também tinham servido para o lançamento das caixas de recolha da discografia publicada de Zappa, intituladas The Old Masters, Box nº 1 , 2 e 3, publicadas entre  1985 e 87 ( que me lembro de ver numa discoteca do Apollo 70 em Lisboa), que passei a ouvir as outras músicas de Zappa, mais antigas e ao mesmo tempo as versões alternativas e ao vivo de canções já publicadas noutros discos.

Ainda assim, os primeiros discos de Zappa, publicados entre 1967 e 1972, nas etiquetas Verve e Bizarre/Reprise, não os ouvi senão muito mais tarde, em cd e nem todos. Até há pouco tempo desconhecia integralmente os discos Uncle Meat ( Bizarre/Reprise, de 1969); Lumpy Gravy ( Verve, de 1968); Burnt Weeny Sandwitch ( Bizarre/Reprise, de 1970); Hot Rats ( Bizarre/Reprise, de 1969); Justa another band from LA ( Bizarre/Reprise, de 1972); The Grand Wazoo ( Bizarre/ Reprise, de 1972);  Bongo Fury ( Discreet, de 1975); Tinseltown Rebellion ( Barking Pumpkin, de 1981); Orchestral Favourites ( Discreet, de 1979) Francesco Zappa ( Barking Pumpkin, de 1984); Frank Zappa meets the mothers of prevention ( Barking Pumpkin de 1985); Jazz from Hell ( Barking Pumpkin, de 1986); Zappa London Symphony Orchestra ( Barking Pumpkin, 1987); Broadway the hard way ( Barking Pumpkin, 1988) para além de outros que saíram em cd.

Os três primeiros- Freak out, Absolutly Free e We´re only in it for the money- só os ouvi em cd e incluidos numa caixa de recolha, tendo na altura prestado pouca atenção, considerando-os pouco mais que um documento histórico. Recentemente ouvi todos esses discos em vinil e na versão original dos lp´s em prensagem americana. Fantásticos, todos os discos é o que se pode dizer. Passei já meses a ouvir repetidamente e nunca me canso de ouvir, principalmente esses primeiros lp´s, particularmente Absolutely Free, de 1967 e We´re only in it for the money, de 1968 e que reproduz ao contrário o estilo da capa de Sergeant Pepper´s dos Beatles, do ano anterior.

Nos anos noventa, aquando da saída dos cd´s da Ryko disc comprei uma colectânea chamada Läther, publicada originalmente em três cd´s em 1996. Na época ouvi algumas vezes, poucas e fixei um ou outro tema, sem repetição. Ao ler as notas de capa do cd, num pequeno livreto tomei atenção à história da colectânea: originalmente gravados para lançamento como album quádruplo em 1977, era tido como o Great Lost Frank Zappa album, à semelhança de um Smile dos Beach Boys.

Há uns meses, dei mais atenção à audição dos discos e foi como que uma pequena revelação, o que ouvia. Para além da repetição de temas conhecidos, como o fantástico  Greggery Peccary, publicado originalmente no disco Studio Tan ( saído sem autorização expressa de Zappa, por causa do conflito com a Warner Brothers que durou vários anos) é um dos temas-chave da genialidade de Zappa.

Posso contabilizar já dezenas e dezenas de audições desse tema que dura mais de vinte minutos de pequenas maravilhas sonoras e que me surpreende sempre que o ouço, com pequenos apontamentos musicais.

Daí à exploração dos restantes temas de Läther e à comparação com as versões originais ou  publicadas depois em modo disperso por vários lp´s- Sleep Dirt, Joe´s Garage act II & III; Tinsel Town Rebellion, Studio Tan e Zappa in New York e Orchestral Favourites, ou até Sheik Yerbouti- foi o tempo de arranjar os lp´s originais.

A repetição de temas em vários lp´s bem como a colagem de sonoridades obtidas por xenocronia, ou seja, por junção de partes de temas do vivo, geralmente solos de guitarra a temas de estúdio, provocou a curiosidade em saber o que era o quê na obra de Zappa e assim se passaram meses a ouvir tudo o que foi possível ouvir até hoje, em repetição e com bastante tempo para perceber o essencial da música de Zappa: genial e única.

Em 2012 a colectânea Läther foi reeditada pela família de Zappa e retomada a intenção original do músico bem como as gravações de origem para esse disco quádruplo frustrado e que apenas saiu em formato de lp no Japão eventualmente em gravação apócrifa.


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Frank Zappa e as revistas de música 21 Apr 2013 1:33 PM (12 years ago)


A seguir ao álbum The man from Utopia o meu interesse na música de Zappa esmoreceu de tal modo que apenas no início dos 90 dei atenção às reedições em cd da obra do mesmo.
Durante esses quase dez anos sairam no entanto artigos em revistas de música que me foram lembrando os discos entretanto saídos, como Them or us, saído em finais 1984 ou mesmo Thing-Fish, do mesmo ano. Lembro-me o entanto de ver tais álbuns, particularmente Thing-Fish em exposição numa discoteca de Lisboa, no piso inferior do Apollo 70. O disco triplo apresentava-se numa caixa graficamente bem cuidada e que tinha uma figura estranha de um ser híbrido cujo significado só muitos anos depois entendi, ao ouvir o disco, em cd.
As revistas que fui comprando, para além da Rock & Folk que sempre deu atenção especial ao músico foram a Musician, logo em Abril de 1982, com uma entrevista extensa e interessante.


Em Janeiro de 1987 a revista Guitar Player fez 20 anos e publicou este número excepcional que entre outras coisas trazia um artigo e entrevista com Zappa, já com o filho Dweezil em duo num tema-Sharleena- que o flexi-disco que a revista trazia, no meio, deixava ouvir.


Em Setembro de 1988 a mesma Musician reincidia noutro artigo sobre a música de Zappa em final dos oitenta.

Nos anos noventa seguiram-se outras como um número excepcional da Guitar Player em conjunto com a Keyboard magazine e que em mais de cem páginas faz uma resenha importante de toda a carreira do músico, com a mais importante entrevista de sempre com o mesmo. Em determinada passagem Zappa fala sobre o cd que acha ser superior, em som, ao vinil. 


Em 4 de Dezembro de 1993 Zappa morreu na sequência de um cancro na próstata  e as revistas da especialidade publicaram extensos artigos sobre a obra e a "continuidade conceptual" da mesma.

A primeira a fazê-lo foi a Musician com uma capa de antologia.

 A Guitar Player também o fez com um artigo que resumia em poucas páginas a carreira do músico.

Em Outubro de 1995 a mesma revista publicou uma resenha dos cd´s que a Rykodisc iria então publicar de novo, com rematrizações dos discos originais de Zappa, previamente autorizadas por este. Foi nesta altura que reganhei interesse na música de Zappa, particularmente por causa dessas reedições que me pareciam uma ocasião para ouvir de outro modo os discos antigos que aliás nem tinha.

 

Em 1999 a revista Guitar World publicou uma resenha bem mais alargada e compreensiva da obra de Zappa.
 http://www.afka.net/images/Magazines/1999/1999-02-xx%20Guitar%20World%20v19n2%2000.jpg



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Frank Zappa nos oitentas 9 Apr 2013 11:01 AM (12 years ago)

Desde o início da década de oitenta que a música de Zappa fazia outro sentido para mim, diverso do que me tinha agradado com a trilogia Overnite Sensation-Apostrophe(´)- One size fits all.

Um dos primeiros discos que comprei, em 1982, foi precisamente o disco de Zappa, duplo, You are what you is que é uma continuação musical do estilo anterior, de Joe´s Garage e Sheik Yer bouti.
Durante o ano de 1981, em Maio,  tinha saído Tinsel Town Rebellion, lp duplo,  na etiqueta Barking Pumpkin Records, recém formada e em alusão à cabacinha de Halloween americano, a fumar e tossicar ( pelos vistos a mulher de Zappa tossicava por causa disso e Zappa era assim que lhe chamava) e um gato assustado em logotipo.
De Tinsel town lembro-me de ouvir o título tema no rádio e pouco mais. Evidentemente, com o passar dos anos tornou-se um disco mais importante, com o tema For the young Sophisticated, Fine girl e o lado 4, mais jazzístico.
No mesmo mês e ano sairam ainda discos de Zappa em edição especial, vendidos primeiro por via postal e anunciados nos media. Shut up ´n play  yer guitar, apresentou-se como um disco triplo e ao título seguinte, Shut up n´play yer guitar some more , juntava-se o terceiro, The return of the son of shut up n´play yer guitar, reunidos numa caixa com foto de Zappa com guitarra ao colo e numa foto apelativa pela commbinação cromática. Nunca ouvi tais discos, principalmente por saber que são exclusivamente instrumentais e apenas com solos de guitarra, retirados de espectáculos ao vivo.
Portanto, logo que saiu You are what you is, em finais de 1981 aprontei os ouvidos para escutar com atenção. O disco, duplo, o primeiro de Zappa que comprei, da etiqueta CBS que então passou a distribuir o produto em Portugal ( o disco de Simon & Garfunkel, The concert in Centrak Park, saído na mesma altura também era distribuído pela CBS Portugal) trazia um tema imperdível, Harder than your husband, do mesmo estilo que Bobby Brown uns anos antes. Mas trazia ainda uma sequência de temas dedicados à "society" americana e Any Downers, Goblin girl, Charlie´s enormous mouth, Conehead ou dumb all over, Doreen. O primeiro, Teen-age wind, fora composto em poucos minutos depois de um músico ter dito a Zappa que conhecia o músico Christopher Cross que nessa altura estava nos "tops" com "ride like the wind". Zappa terá dito na altura que "ah! dêem-me aí um lápis e papel e escrevo uma coisa dessas em cinco minutos". E se bem o disse melhor o fez.


O disco foi o que se aguentou até 1983, com a saída de The man from Utopia que também comprei quando saiu, igualmente da CBS Portugal e que custou 475$00.
Antes, em 1982 tinha saído Ship arriving too late to save a drowning witch que pouco ouvi porque não me interessava por aí álém a música que ouvia. Porém, erro meu, má fortuna. A música de Drowning witch é também impecável e só dei por isso há pouco tempo. Porém, o single Valley Girl, com a filha de Zappa, Moon, a cantar desencorajava-me a ouvir mais.


No entanto, esse disco tinha uma particularidade: a recomendação de Zappa na capa interior para o disco ser preferencialmente ouvido em colunas  JBL 4311 ou equivalentes e com os controlos de loudness desligado e os do preamplificador em posição "flat".
Nunca ouvi o disco numas JBL ou equivalentes mas é um disco gravado digitalmente e com uma equalização interessante, tal como os anteriores, aliás.



O seguinte, The man from Utopia, saído em Março de 1983 ainda tinha uma gravação e equalização mais marcante nos baixos, particularmente Tink walks amok ou Stick together ou mesmo Sex. O tema The radio is broken, uma espécie de rap, tem uma passagem rítmica algo complexa com o baixo de Scott Thunes a ronronar um riff dos The Knack, em My Sharona, um hit da altura.
O disco servia para testar a aparelhagem nas frequências baixas e é dos discos que menos aprecio de Zappa e cujo material menos me interessa. A capa é de um ilustrador italiano, Liberatore, que na época desenhava na revista Frigidaire ( uma espécie de Actuel transalpina ou uma el Vibora espanhola ou mesmo uma Face inglesa).

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